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O dueto Pur ti miro, pur ti godo, um dos mais belos e emocionantes momentos da história da ópera, é a cena final de L’Incoronazione di Poppea (A Coroação de Popeia), última obra de Monteverdi, escrita em 1642, poucos meses antes de sua morte aos 76 anos.
O que é estranho, chocante talvez, é que seus dois protagonistas, o imperador Nero e sua recém coroada imperatriz, Popeia, são dos mais perversos e corruptos personagens da história de Roma. Na verdade, Popeia será executada pouco depois, por ordem de Nero.
Sabendo disso, Monteverdi dá à peça um tom sombrio, dissonante. Assim, por exemplo, quando Nero e Popeia cantam um outro trecho da ópera, Più non peno, più no moro (Não sofro mais, não morro), suas vozes se chocam.
Isto, porém, não torna o dueto menos bonito – pelo contrário, adiciona-lhe uma dimensão trágica.
(O papel de Nero, que era originalmente cantado por um castrato, atualmente é cantado por uma contralto ou um contratenor, enquanto que o de Popeia, é cantado por uma soprano.)