A MÚSICA CLÁSSICA

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Não existe uma definição simples do que é música clássica. Devido ao seu caráter cultural e histórico – portanto, mutável –, essa definição tem a ver com a maneira pela qual a música é pensada, recortada e empregada em uma dada era.

Música desse tipo não acontece em uma sociedade dominada pelas necessidades básicas de alimento e abrigo. Geralmente, aquilo que chamamos arte requer um nível de liberdade das demandas básicas da subsistência. Floresce nos períodos da história e nas partes da sociedade nos quais o luxo do tempo livre e de recursos permite que a cultura assuma precedência sobre questões materiais.

Na sociedade ocidental, a música clássica abrange um período de mais de mil anos, da Idade Média ao Pós-Moderno. Inicialmente, foi produzida sobretudo nas comunidades fechadas de igrejas e mosteiros, e nas cortes. No século XVIII, com a emergência de uma classe média economicamente independente, a sala de concerto, o público pagante e o conceito de obra-prima surgiram em Viena, Londres, Berlim e Paris, sendo difundidos mais amplamente a partir do século XIX.

A principal característica que define a música clássica é que ela é escrita ou notada. Sua história se desenvolveu a partir das possibilidades da notação musical e, por esse motivo, ela sobreviveu ao longo dos séculos. A notação permitiu aos compositores refinar suas ideias e elaborar formas mais complexas. A própria polifonia evoluiu à medida que a notação musical foi se tornando mais completa e precisa.

No passado, a música ficava quase sempre restrita a composições de autores locais, vivos ou recentes. Era raro ouvir obras de outros lugares e períodos ou de culturas distantes. As cantatas de Bach, por exemplo, foram compostas para serem apresentadas em serviços religiosos na Igreja de São Tomás, em Leipzig, onde o próprio Bach era o Cantor (responsável pela direção do coro e dos instrumentistas da orquestra na igreja). A música era um evento social: envolvia reunir grupos de pessoas para executá-la e ouvi-la.

Um fator decisivo para o seu desenvolvimento no século XX foi a invenção e a disseminação das tecnologias de gravação. Embora Thomas Edison tenha criado o fonógrafo em 1877 e cilindros de cera tenham sido usados para gravar na década de 1880, as gravações comerciais só se tornaram acessíveis na década de 1920. A partir de 1980, o disco de vinil deu lugar ao CD e, apenas uma década depois, surgiram os arquivos em MP3 e os novos formatos de maior fidelidade (flac, wav e outros), que desde então vêm tornando o CD cada vez mais obsoleto.

O impacto das tecnologias de gravação sobre como pensamos e usamos a música foi enorme. Sem dúvida, é a mudança histórica mais importante desde o surgimento das salas de concerto, no século XVIII. A tecnologia atual possibilita o acesso imediato a praticamente toda a música do mundo, graças a dispositivos eletrônicos cada vez mais acessíveis, como celulares, tablets e computadores.

Hoje, a música pode ser uma experiência inteiramente pessoal. Acessada facilmente, faz parte de nossa vida cotidiana, podendo ser ouvida em qualquer ambiente. É uma experiência completamente diferente da do monge da Idade Média entoando cantochão em uma catedral; de um nobre ouvindo um quarteto em um salão; ou de um napolitano assistindo, pela primeira vez, a uma ópera de Rossini em um teatro quente e barulhento.