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O Concerto nº 17 K.453 faz parte de uma série de seis obras do gênero que Mozart compôs em 1784, um ano de incrível inspiração e produtividade. É o primeiro da série das grandes obras-primas deste gênero da maturidade do compositor. Em 1964, o compositor francês Olivier Messiaen escreveu as seguintes observações sobre a peça em uma nota de programa:
“Mais do que em qualquer outro, este concerto revela o aspecto mais secreto da alma do músico, seu charme, seus sorrisos, seus pesares, suas decepções, suas oscilações entre o desespero e a alegria incontida, e tudo isto dominado pela profunda serenidade dos que esperam a morte como uma passagem para uma vida superior.”
O concerto foi encomendado por Babette von Ployer, então com 18 anos, uma das mais talentosas alunas de Mozart. Babette o interpretou em um concerto na residência Ployer em 10 de junho de 1784. Mozart escreve a seu pai:
“Amanhã, Herr Ployer vai dar um concerto em Döbling. Fräulein Babette vai tocar meu novo Concerto em Sol. Vou levar Paisiello em minha carruagem. Quero que ele ouça minha aluna e minhas composições.”
Giovanni Paisiello, um compositor italiano espirituoso e sociável, tinha acabado de voltar de uma longa estadia como diretor da Ópera de São Petersburgo.
No K.453, Mozart nos brinda com uma exuberância de ideias que apareceria nos seis concertos de 1784. A integração entre solo e orquestra era algo inédito para época, com os sopros aparecendo tanto como parte do conjunto, como em solos.
A exposição do primeiro movimento mostra bem essa extravagância temática. Enquanto um concerto clássico tradicional apresenta dois temas contrastantes, esta exposição oferece não menos que seis, onde cada um se origina do anterior.
O Andante é um dos movimentos mais meditativos e recolhidos de Mozart.
O último movimento começa com um Allegretto com cinco variações sobre um tema memorável. Há uma história interessante associada a este tema: Mozart gostava de animais e, em Viena, tinha um cavalo e um cachorro. Eric Bromberger, autor de notas de programa para diversas orquestras, conta a história de um passarinho:
“Em maio de 1784, Mozart comprou um estorninho por 34 kreuzer. O passarinho aprendeu sozinho a cantar o tema do Allegretto do K.453. Mas tinha ideias próprias sobre a composição: acrescentou um sustenido a uma das notas e uma fermata no caminho. Mozart anotou a versão do estorninho em seu diário com o comentário: Vejam que bonito!”
Mozart nos reserva ainda uma surpresa – um presto que se segue ao allegretto com variações. Aqui temos Mozart em clima de ópera, escrevendo um final dentro de um final. A música é espirituosa, intensa e dramática, prefigurando o clima das Bodas de Fígaro e do Don Giovanni.
Mozart – Concerto para Piano e Orquestra nº 17 em Sol Maior, K.453 | Leif Ove Andsnes (piano) e Orquestra de Cleveland regida por Franz Welser-Möst.