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Apenas dois dos 23 concertos para piano e orquestra de Mozart são em tom menor: o Concerto nº 20 para Piano e Orquestra em Ré Menor, K.466 (que vamos ouvir hoje), e o nº 24, em Dó menor. Ambos figuram entre suas sete ou oito melhores obras nesse gênero.
Aliás, das suas mais de 600 composições, apenas 30 são em tom menor (cerca de 5%). No entanto, a concentração de obras-primas nesses trabalhos é extremamente alta. Uma busca não exaustiva que fiz me levou a 20 grandes obras dentre estas 30.
Mozart usa o tom menor em obras de expressão pessoal, obras que compõe para si próprio, talvez em catarses que se permita de quando em quando.
Ré menor, em particular, é uma tonalidade rara em sua obra, mas quando vem à tona, como no Réquiem, na ópera Don Giovanni e no Quarteto K.421, transmite a mesma atmosfera de ameaça, de tragédia iminente (de vingança, segundo um comentarista). É este o sombrio clima do concerto que vamos ouvir hoje.
A glória do Concerto nº 20, K.466 consiste em reunir o equilíbrio e a perfeição da forma do concerto clássico com a paixão e a tempestade de emoções do concerto romântico que, podemos dizer, tem aqui sua origem.
Ao clima tempestuoso e trágico da abertura, segue-se uma Romanza, que, como o nome promete, tem o tom doce e galante de uma canção de amor ou de uma serenata. Ela é interrompida por dois episódios.
No segundo, em tom menor, as fúrias atacam novamente: o piano e os sopros criam um clima de inquietação, relembrando as tempestades anteriores. No final do movimento, a tranquilidade do início retorna.
O Finale é cheio de paixão e drama, intensificados musicalmente pelo uso do cromatismo. Mas Mozart não quer terminar com pessimismo e desespero. Depois da Cadenza, ele muda o tom para Ré maior.
Diz o musicólogo Eric Blom: “Afinal, Mozart se lembrou de que esta era uma peça para entreter. Sentindo que já tinha feito muito para chocar seus ouvintes, ele os conforta no final e os manda para casa mais tranquilos”.
Mozart – Concerto para Piano e Orquestra nº 20 em Ré menor, K.466 | New Japan Philharmonic, com Christian Arming (regent) e Martha Argerich (piano).