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A Cantata, BWV 161, “Komm du süsse Todesstunde” (Vem, ó doce hora da morte), está entre as mais belas e as mais sedutoras de todas”, afirma o musicólogo Alberto Basso. Já para o historiador musical Philipp Spitta, “o clima da cantata é tão celestial e suprassensível que às vezes se tem a impressão de que não é música terrena que ouvimos, mas que estamos nos movendo entre seres espirituais”.
Escrita no período de Weimar, a Cantata BWV 161 foi apresentada pela primeira vez no dia 6 de outubro de 1715. O evangelho deste domingo é o da ressureição do filho da viúva de Naim, mas o libreto, dentro da tradição luterana, ou mais especificamente pietista, se concentra no tema da doce espera da morte.
O contralto é acompanhado na abertura por duas flautas doces, além do contínuo. “As passagens das flautas”, diz Spitta, “flutuam acima de nós como nuvenzinhas no puro éter e entre elas se move a forma bela e lúcida da melodia do solo”.
Bach introduz neste movimento o coral “Herzlich tut mich verlangen”, com melodia de Hassler, que é ouvido no cornetto. Como bem observa o musicólogo Alfred Dürr, a melodia deste coral impregna, quase à maneira de uma livre variação, toda a composição, contaminando tanto a parte do contralto no primeiro movimento, a do tenor, no terceiro, e a do soprano, no quinto.
O segundo movimento é um recitativo para o tenor muito bonito e expressivo. Ouçam o final, especialmente o acompanhamento do violoncelo. O texto fala aqui do deleite do fiel junto a Jesus, quando deixar este mundo.
Segue-se uma ária para o tenor mais agitada, mais humana. O acompanhamento é feito pelas cordas, não pelas etéreas flautas doces.
O segundo recitativo é talvez ainda mais bonito do que o primeiro. O contralto é aqui acompanhado pela orquestra inteira.
No final, “Schlage doch, du letzter Stundenschlag” (Soa então, hora final), o acompanhamento das cordas e flautas imita os sinos fúnebres.
O coro do quinto movimento retorna ao clima doce e espiritual da abertura.
O coroamento da obra, para citar Spitta novamente, é o coral que se segue – acima do movimento em quatro vozes, a flauta vagueia com passagens estranhas e misteriosas, dando origem a maravilhosas harmonias; o conjunto soa como se ouvido em um sonho.
Merece destaque a interpretação do Bach Consort de Moscou: coro de uma voz por parte; orquestra de câmera com duas flautas doces, dois violinos, viola, violoncelo, corneto e órgão. Esta abordagem íntima combina com o clima etéreo da cantata.
Bach – Cantata BWV 161, “Komm du süsse Todesstunde” | Bach Consort, com Liliya Gaysina (soprano), Yulia Mikkonen (contralto), Paul Bentley (tenor) e Anton Tutnov (baixo).