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A Cantata BWV 127, “Herr Jesu Christ, wahr’Mensch und Gott” (Senhor Jesus Cristo, verdadeiro homem e Deus), foi escrita para o domingo da Quinquagésima de 1725 (11 de fevereiro). O Evangelho deste domingo fala da profecia de Cristo sobre sua paixão e ressurreição.
Esta obra, apesar de suas dimensões reduzidas, foi realmente concebida no espírito de uma Paixão. O texto é um lied que Paul Eber havia escrito em 1562 sobre a morte de seu filho, um lamento fúnebre em que se lembra o martírio da cruz.
No coral de abertura, de extraordinária intensidade, Bach usa vários símbolos para reforçar o conceito básico de paixão e ressurreição: flautas doces usadas como instrumentos fúnebres, ritmos pontiagudos sugerindo desolação ou flagelação, e o uso do coral luterano Christe, du lamm Gottes (Cristo, cordeiro de Deus) nos violinos.
Segue-se um recitativo e, a este, uma das mais belas árias de Bach: “Die Seele ruht in Jesu händen” (A alma repousa nas mãos de Jesus). O soprano dialoga com um oboé sobre um fundo harmônico realizado por duas flautas e pelo contínuo. As cordas, em pizzicato, imitam o sino dos mortos citado no texto.
Em violento contraste, segue-se uma representação do juízo final, cuja forma é pouco usual na obra de Bach. Um breve recitativo, acompanhado pelas cordas e por uma trompa da caccia (que representa a trombeta do juízo final), conduz às palavras consoladoras de Jesus, “Fürwahr, fürwahr”: “Em verdade, em verdade eu vos digo: passará o céu e a terra, mas aquele que crê existirá para sempre”.
São três episódios durante os quais um recitativo seco, muito sereno, alterna-se com a estrofe de uma ária impetuosa, fogosa, com cordas e trompa. Esta alternância traduz a oposição assinalada no texto entre duas imagens: a da destruição do céu e da terra, por um lado, e a da firmeza da fé do cristão, por outro.
Um coral simples encerra esta obra-prima.
Bach – Cantata BWV 127 | Coro e Orquestra da J. S. Bach Foundation regidos por Rudolf Lutz. Solistas: Julia Doyle (soprano), Georg Poplutz (tenor) e Peter Kooij (baixo)
Já comentamos aqui sobre a ária Die Seele ruht in Jesu Händen (A alma repousa nas mãos de Jesus) da Cantata BWV 127: