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A música de câmara tocada em casa era muito comum entre as famílias de classe média do século XIX. Muitos músicos amadores tinham consideráveis habilidades. Os compositores não precisavam, assim, fazer concessões artísticas.
Canções em forma de duetos e quartetos eram uma das formas prediletas de fazer música. Escritas para várias vozes, foram típicas deste período e muito raras em outras épocas.
Brahms completou suas Liebeslieder Walzer (Canções de Amor em forma de Valsa), Op. 52, em Lichtenthal no verão de 1859. A família Schumann estava hospedada perto dali e é quase certo que essas canções de amor tenham sido dirigidas a Julie, filha do casal Schumann, por quem ele estava apaixonado.
Brahms ia vê-la todos os dias e ficou muito acabrunhado quando soube de seu noivado com o nobre italiano Victor Radicati di Marmorito, com quem Julie viria a se casar.
Porém as Liebeslieder antecedem a decepção amorosa do compositor. São, pelo contrário, muito alegres, cheias de verve e de humor. Escritas em compasso 3/4, algumas são solos e outras duetos, mas a maior parte é em quartetos para soprano, contralto, tenor e barítono.
Brahms escolheu poemas de origem russa, polonesa ou húngara de uma antologia, mas deu a todos eles uma elaborada roupagem vienense.
Ouça a seguir o podcast sobre a obra, com leitura dos poemas por Adriana Braga.
Assista também ao vídeo com o ciclo completo legendado em português:
Brahms – Liebeslieder Waltzes, Op. 52 | Olga Tselinskaia (soprano), Oksana Lazareva (contralto), Mirko Guadagnini (tenor) e Filippo Bettoschi (barítono). Piano a quatro mãos: Luca Ciammarughi e Danilo Lorenzini.
Leia abaixo os poemas de cada canção:
Canção nº. 1. Rede, Mädchen, allzu liebes (Dize, doce menina)
Dize, doce menina, que, com teus olhares,
Despertaste em meu frio peito.
Estes sentimentos loucos e apaixonados.
Não vais desistir, queres mesmo que venha para ti?
Não queres amolecer teu coração,
Queres, excessivamente virtuosa,
Viver sem a alegria do amor,
Ou queres que eu venha?
Viver sem a alegria do amor…
Não quero sofrer um destino tão amargo.
Venha, então, com teus olhos negros,
Venha, quando as estrelas chamarem!
Canção nº. 2. Am Gesteine rauscht die Flut (As ondas selvagens)
As ondas selvagens
Batem contra as rochas.
Quem não aprendeu a suspirar,
Vai aprender quando amar.
Canção nº. 3. O die Frauen (Ah, as mulheres)
Ah! as mulheres, as mulheres…
Elas deleitam, derretem meu coração…
Não fosse por elas,
Já há muito seria monge.
Canção nº. 4. Wie des Abends schöne Röte (Como um lindo pôr-do-sol)
Como um lindo pôr-do-sol,
Eu, pobre moça, brilharia
Se você me quisesse
E irradiaria amor sem fim.
Canção nº. 5. Die grüne Hopfenranke (As ramas verdes da vinha)
As ramas verdes da vinha
Arrastam-se pelo chão.
Como parece triste também
A linda menina!
Por que, ramas verdes!
Por que não se erguem ao céu?
Por que, linda menina!
Por que está tão pesado o teu coração?
Como as ramas se ergueriam
Sem um suporte que lhes dê força?
Como seria a menina alegre,
Se o seu amado está longe?
Canção nº. 6. Ein kleiner, hübscher Vogel (O belo passarinho voou)
O belo passarinho voou
Para um jardim cheio de frutas.
Se eu fosse um passarinho,
Não hesitaria, faria o mesmo.
Mas astutos gravetos com visgo espreitavam no lugar;
O pobre passarinho não pôde mais voar.
Se eu fosse um passarinho,
Eu hesitaria, não faria o mesmo.
O pássaro pousou em uma bela mão
E agora não quer saber de mais nada.
Se eu fosse um passarinho,
Não hesitaria, faria o mesmo.
Canção nº. 7. Wohl schön bewandt war es (Tudo parecia bem)
Tudo parecia bem
Há um tempo
Com meu amor.
Seu olhar atravessava
Uma parede, dez paredes
Para me alcançar
Mas agora…
Ainda que esteja
Na frente
De seu olhar frio,
Nem seus olhos,
Nem seu coração
Reparam em mim.
Canção nº. 8. Wenn so lindt dein Auge mir (Quando você me olha ternamente)
Quando você me olha ternamente,
Tão cheio de amor,
Toda a tristeza que me assalta
Se desvanece.
Não vamos deixar que o doce ardor
De nossa paixão se apague.
Ninguém vai amá-lo
Tão sinceramente como eu.
Canção nº. 9. Am Donaustrande (Às margens do Danúbio)
Às margens do Danúbio há uma casa.
Uma jovem rosada olha de suas janelas…
Ela é muito bem guardada,
Dez trancas defendem a porta.
Dez trancas de ferro – isto é brincadeira para mim…
Vou quebrá-las como se fossem de vidro.
Canção nº. 10. O wie sanft die Quelle (Ah, o rio faz suaves meandros)
Ah, o rio faz suaves meandros
Pelas campinas.
Oh, como é doce
Quando o amor
É recompensado!
Canção nº. 11. Nein, es ist nicht auszukommen (Não, não é possível)
Não, não é possível
Aguentar este povo…
Eles interrompem tudo,
São tão venenosos!
Se estou feliz, dizem
Que tenho desejos vadios…
Se estou quieto, dizem
Que estou loucamente apaixonado.
Canção nº. 12. Schlosser auf, und mache Schlösser (Serralheiro, venha cá. Faça-me trancas)
Serralheiro, venha cá! Faça-me trancas,
Inumeráveis trancas!
Para que eu possa, de uma vez por todas,
Fechar estas bocas maliciosas.
Canção nº. 13. Vögelein durchrauscht die Luft (Um passarinho voa pelo céu)
Um passarinho voa pelo céu
Em busca de uma árvore.
Assim, um coração busca outro,
Onde possa repousar feliz.
Canção nº. 14. Sieh, wie ist die Quelle Klar (Veja como as ondas estão claras)
Veja como as ondas estão claras,
Com o reflexo da Lua!…
Você, minha querida,
Retribua meu amor!
Canção nº. 15. Nachtigall, sie singt so schön (O rouxinol canta tão bonito)
O rouxinol canta tão bonito,
Quando as estrelas brilham.
Ama-me, meu amor,
Beija-me no escuro!
Canção nº. 16. Ein dunkler Schacht ist Liebe (O amor é um poço escuro)
O amor é um poço escuro,
Um poço perigosíssimo…
Tropecei e nele caí, ai de mim…
Não ouço, não vejo…
Só consigo lembrar a felicidade
E lamentar a dor.
Canção nº. 17. Nicht wandle, mein Licht (Não ande pelos campos, meu amor)
Não andes pelos campos, meu amor
A terra está muito encharcada
Para teus pés delicados.
Os caminhos e trilhas
Estão inundados,
De tanto que meus olhos
Têm chorado.
Canção nº. 18. Es bebet das Gesträuche (A folhagem estremece)
A folhagem estremece,
Quando um pássaro em voo
Roça contra ela…
Assim treme também minha alma
Com amor, desejo e dor,
Sempre que pensa em ti.