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Biancamaria Binazzi
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Terças Ilustres #6 – Biancamaria Binazzi

Apresentamos hoje, na coluna Terças Ilustres, a playlist da radialista e produtora cultural Biancamaria Binazzi.

Bianca atuou em emissoras como Rádio Cultura FM, Rádio Cultura Brasil, Rádio USP, Web Rádio do Centro Cultural São Paulo e Rádio Batuta. Mestra em Culturas e Identidades Brasileiras pelo IEB-USP, desde 2004 desenvolve cursos e oficinas de rádio e escuta em instituições como SESC, CCSP e Museu Casa Mário de Andrade. Ela é uma das idealizadoras do projeto Goma-Laca.

Leia o afetuoso depoimento que ela escreveu sobre o período em que trabalhou com Carlos Siffert na Rádio Cultura FM e ouça, na sequência, a playlist que ela fez “dedicada a esses tempos”:

As músicas que aprendi a amar com Carlos Siffert

Fui uma das produtoras privilegiadas da Rádio Cultura FM que teve a felicidade de passar as noites de quarta-feira gravando e montando os programas de rádio do Carlos Siffert, junto com o Fubá (Jonas Bicev, sonoplasta e mago das costuras sonoras).

Eu tinha meus vinte anos e sabia quase nada de música clássica. Na verdade, até sabia – o compositor “Giuseppe de tal”, nasceu no condado “AlgumBurg”, em mil oitocentos e saudade, e é considerado o maior representante do movimento tal, tendo composto duas sinfonias, 20 quartetos… – e tudo o mais que se encontrava no Google, ou no exemplar do Groove’s que morava no armário.  

Mas foi com o Carlos Siffert e com o Fubá que eu aprendi a escutar música. Aquietar, sentir, e muitas vezes flutuar e voar alto em plena quarta-feira. Aprendi a comparar versões, ouvir os instrumentos em seus melhores momentos de voo solo, a tentar pescar frases em latim ou alemão. Siffert conhece os ossos e o sangue que corre em cada gravação, sabe o minuto exato de cada epifania, está sempre a postos para cada fortissimo ou pianissimo. Ele usa essa intimidade com os discos para costurar a música com sua voz serena, criando uma nova composição musical que nos conduz em uma escuta atenta e apaixonada.

O Siffert já colecionava décadas de experiências no rádio, concertos pelo mundo e escuta afinada em sua discoteca particular. Eu, que ganhei dele o apelido de A Trefega, esquecia de jantar para não perder um segundo daquelas aulas particulares de escuta comentada. Siffert, Fubá, cafezinho e chocolate, puro agito. 

E não foram poucos os programas que produzimos juntos naqueles quatro anos: Mozart 250 (a estreia de nossa parceria); Beethoven Hoje (onde aprendi a escutar Beethoven em silêncio); Hollywood: música degenerada (minha estreia como locutora de vinheta); Roberto, Clara e João (onde desenvolvi certa queda pelo Brahms). E as Cantatas do Bach?

Imaginem a festa que era quando ele chegava no estúdio com um montinho de discos importados novíssimos para digitalizar. Das preciosidades da discoteca luminosa de Carlos Siffert, lembro-me bem da coleção das Cantatas de Bach conduzidas por John Eliot Gardiner. Lembro das capas maravilhosas e hipnóticas dos CDs. Sentia que escutar aquilo era o caminho que mais me aproximava do céu. Hoje, quando botei para escutar a BWV 182, ao invés de voar para os céus, voei de volta para aqueles tempos felizes de Rádio Cultura em boas companhias.

Segue uma pequena seleção musical que fiz dedicada a esses tempos e às músicas que eu saía cantarolando pelas escadas da Cultura depois das gravações.

Obrigada, querido Carlos Siffert, por me ensinar o tempo da escuta.

Playlist | Terças Ilustres #6 – Biancamaria Binazzi