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Haydn – As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz

As sete últimas palavras de Cristo na cruz figura entre as mais belas, profundas e incomuns obras de Haydn. Ele mesmo nos explica as circunstâncias que o levaram à sua composição:

“Há uns quinze anos, recebi um pedido de um sacerdote de Cádiz [cidade da Andaluzia] para compor música instrumental sobre as Sete Últimas Palavras de Nosso Salvador na Cruz. Era costume em Cádiz produzir todo ano um oratório durante a Quaresma.

O efeito dessa apresentação era intensificado pelo cenário montado. As paredes, janelas e pilares eram cobertos com panos pretos e somente um grande candelabro pendurado no centro do teto quebrava a solene escuridão. Ao meio-dia, as portas eram fechadas e a cerimônia começava.

Depois de uma breve oração, o bispo subia ao púlpito, dizia a primeira palavra e fazia um breve sermão sobre ela. Depois, deixava o púlpito e se ajoelhava diante do altar. A orquestra então tocava o primeiro Adagio. O bispo prosseguia dessa maneira, dizendo a segunda palavra, a terceira, e assim por diante. A orquestra se seguia à conclusão de cada discurso.

Minha composição era sujeita a essas condições e não foi nada fácil compor sete adágios durando dez minutos cada, que se sucediam sem cansar os ouvintes; na verdade, achei impossível me ater aos limites estabelecidos.”

A propósito das observações de Haydn sobre a dificuldade da composição, o comentarista Eric Bromberger afirmou:

“O desafio para ele era de capturar o espírito dessas palavras solenes, mantendo o interesse dos ouvintes ao longo de sete movimentos lentos. Ele o enfrentou de diferentes maneiras: criando fortes contrastes entre o caráter das partes (algumas são líricas, outras lamentosas, outras dramáticas), usando uma ampla gama de tonalidades (algo inusitado para a época), e explorando sonoridades contratantes, como cordas em surdina em um movimento e  pizzicato em outro. Emoldurou os sete movimentos lentos com a Introdução solene, Maestoso ed Adagio, e o Terremoto final, marcado Presto e con tutta la forza.”

É importante observar que as cerimônias da Sexta-Feira Santa não aconteciam na Catedral de Cádiz, mas sim na Capela de Santa Cueva, uma caverna feita em uma colina atrás da Catedral, em quase total escuridão.

Uma curiosidade final: o padre que encomendou a composição, Don José Sáenz de Santa María, pagou Haydn de uma maneira original – mandou-lhe um bolo… recheado de moedas de ouro.

A obra

A versão original de As sete últimas palavras de Cristo na cruz data de 1786 e foi escrita para grande orquestra. Teve tanto sucesso que logo vieram outras versões: para quarteto de cordas, para orquestra e coro (com um texto composto especialmente para a obra) e uma redução para piano autorizada pelo compositor.

A primeira apresentação em Cádiz ocorreu em 6 de abril de 1787. Uma indicação da fama de Haydn naquela época reside no fato de a obra ter sido executada quase que simultaneamente em Viena e em Bonn, em fins de março, portanto antes da “estreia” em Cádiz!

 

Haydn dividiu o trabalho em dez partes, usando o texto em Latim:

  • Introdução em Ré Menor – Maestoso ed Adagio
  • Sonata I (“Pater, dimitte illis, quia nesciunt, quid faciunt”) em Si Bemol Maior – Largo
  • Sonata II (“Hodie mecum eris in paradiso”) em Dó Menor /Dó Maior – Grave e cantabile
  • Sonata III (“Mulier, ecce filius tuus”) em Mi Maior – Grave
  • Sonata IV (“Deus meus, Deus meus, ut quid dereliquisti me”) em Fá Menor – Largo
  • Sonata V (“Sitio”) em Lá Maior – Adagio
  • Sonata VI (“Consummatum est”) em Sol Menor/Sol Maior – Lento
  • Sonata VII (“In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum”) em Mi Bemol Maior – Largo
  • Il Terremoto, em Dó Menor – Presto e con tutta la forza

Versão em português:

  • Introdução
  • “Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34)
  • “Em verdade eu te digo, hoje, estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:43)
  • “Mulher: Eis aí o teu filho… Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe…” (João 19:26-27)
  • Elí, Elí, lama sabactani? Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mateus 27:46 e Marcos 15:34)
  • “Tenho sede.” (João 19:28)
  • “Está consumado.” (João 19:30)
  • “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito.” (Lucas 23:46)
  • Terremoto

O nono e último movimento, Terremoto, refere-se à descrição de Mateus 27:51 e 27:54:

E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram…
O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: “Ele era mesmo Filho de Deus!”

Haydn – As sete últimas palavras de Cristo na cruz | Le Concert des Nations regido por Jordi Savall 

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