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O VOLTAR
Haydn – Sinfonia nº 45, “Despedida”
HaydnMÚSICA ORQUESTRAL

Haydn – Sinfonia nº 45, “Despedida”

Haydn serviu o príncipe Nicolaus Esterházy durante quase 30 anos. O príncipe tinha um palácio em uma região remota da Hungria, onde passava com sua corte longas temporadas.

Em 1772, a temporada no palácio no campo se estendeu muito além do normal. Os músicos estavam longe de suas famílias e ansiosos por retornar. Pediram a Haydn que intercedesse em seu favor junto ao príncipe, e ele o fez com sucesso. Como ele conseguiu é o que veremos a seguir.

Sinfonia nº 45 em Fá Sustenido Menor, “Despedida”, é ímpar em vários aspectos. Para começar, é a única escrita em fá sustenido menor em todo século XVIII.

O primeiro movimento começa na maneira típica do período Sturm und Drang (*), com arpejos descendentes nos primeiros violinos contra notas sincopadas dos segundos violinos e acordes sustentados nos sopros.

Normalmente, na exposição, surgiria um segundo tema, mas isto não acontece aqui. Haydn adia o segundo tema – uma bela melodia que surge nos violinos – até pouco antes da recapitulação e, o que é mais curioso ainda, este segundo tema não volta mais.

Em seguida vem um belo e sereno Adagio. O movimento começa com uma melodia suave tocada nos violinos em surdina. O clima se torna pouco a pouco mais sério, com alternâncias entre modo maior e modo menor que lembram passagens (que viriam posteriormente) da obra de Schubert.

O Minueto é em Fá sustenido maior, novamente com passagens sincopadas.

O Trio começa com trompas ascendentes e cita as Lamentações de Jeremias do Canto Gregoriano – um tema que Haydn usou também na Sinfonia nº 26 – Lamentatione.

Tal como o primeiro movimento, o Finale presto é também em fá sustenido menor e começa em uníssono. As primeiras sete notas são a base de tudo o que acontece depois.

Presto continua a todo vapor, cheio de tensão e com um nível de turbulência raro na música do século XVIII. A música prossegue até o fim da recapitulação e, repentinamente, em vez de acabar, para e dá lugar a um Adagio em Lá maior.

E eis aqui a maneira sutil que Haydn encontrou de comunicar ao príncipe o desejo dos músicos de voltar para a casa: os músicos vão pouco a pouco deixando o palco, sopram sua vela, pegam sua partitura e saem pé ante pé.

A ordem de saída é:

  • 1º oboé e 2ª trompa;
  • fagote;
  • 2º oboé e 1ª trompa;
  • contrabaixo (solo 2’11”);
  • violoncelo;
  • violinos;
  • viola.

Restam apenas dois violinos: segundo a crônica da época, tocados por Haydn e o spalla da orquestra, Alois Luigi Tomasini. Esses dois violinos tocam com surdinas e soam cada vez mais abafados, cada vez mais distantes, até a conclusão.

O príncipe captou a mensagem: não só os músicos, mas ele próprio e todos os membros de sua corte partiram de volta a seu outro palácio, no dia seguinte.

Haydn – Sinfonia nº 45 em Fá Sustenido Menor, Despedida | Il Giardino Armonico  – Giovanni Antonini

(*) Sturm und Drang: é, na verdade, o nome de um movimento literário alemão que começaria algum tempo depois. Privilegia a paixão e a emoção e se revolta contra o absolutismo político e as convenções sociais.

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