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HaydnMÚSICA DE CÂMARA

Haydn – Trios para Piano e Cordas nºs 43 e 44

Os Trios para Piano e Cordas ocupam um lugar especialmente importante na obra de Haydn. O musicólogo Charles Rosen, em The Classical Style, os considera, juntamente com os Concertos para Piano e Orquestra de Mozart, as mais brilhantes obras para piano anteriores a Beethoven.

O piano tem um papel dominante nos Trios. O violino acompanha o piano e o violoncelo apenas dobra a mão esquerda do piano na maior parte do tempo. Rosen comenta:

“Os trios são essencialmente trabalhos para piano solo. O uso dos instrumentos de cordas tem a ver com o fato de que o pianoforte da época de Haydn estava ainda em um estágio experimental: seus graves eram fracos e a capacidade de sustentação das notas era pequena. Com o trio vinha a solução para estes problemas: o violoncelo reforçava os graves, e o violino era usado nas melodias mais cantabile”.

Dos 45 Trios catalogados pelo musicólogo H.C. Robbins Landon, os primeiros 17 são peças leves, divertimentos.

Os que vamos ouvir a seguir estão entre os últimos compostos por Haydn. Fazem parte de um conjunto de três peças que ele dedicou a Therese Jansen, sua amiga e excelente pianista. Charles Rosen os considera os mais difíceis que Haydn escreveu, uma formidável realização musical e intelectual.

Trio nº 43 em Dó Maior, Hob. XV:27

O Trio nº 43 é o primeiro dos três dedicados a Therese Jansen. É dividido também em três movimentos (como o nº 44).

Allegro inicial é brilhante, cheio de contrastes súbitos de clima, tonalidade, ritmo e dinâmica. O movimento apresenta aquela qualidade de improvisação de que já falamos.

O movimento lento é um Andante que começa suave e lírico, com uma ornamentação florida para o piano e o violino. Surge, então, a surpresa: uma seção em tom menor, que começa com um forte no meio de um compasso e continua com um poder dramático próximo da brutalidade.

Sobre o final desse Trio, diz Charles Rosen: “o Presto final é talvez a peça mais humorística de Haydn”.

Tudo nesse movimento é inesperado: o tema de abertura, que é uma brincadeira; a harmonia, que muda para acentuar tempos fracos; a melodia angular, que aparece às vezes no registro errado; e o ritmo scherzando, que permite o início da melodia quando menos se espera.

Haydn – Trio nº 43 em Dó Maior, Hob. XV:27 | Trio Perlman

 

Trio nº 44 em Mi Maior, Hob. XV:28

Trio em Mi maior, prossegue Rosen em seu ensaio sobre o assunto, é realmente extraordinário, de certa forma a mais estranha das últimas obras de Haydn.

O primeiro movimento é um Allegro Moderato Cantabile que tem um caráter de improvisação. O piano parece estar tocando em pizzicato, tal como as cordas.

Uma passagem surpreendente ocorre na seção de desenvolvimento: o tema principal surge de repente, tocado forte pela única vez, com harmonia plena e as cordas tocando arco (não pizzicato). É o clímax, o ponto de convergência de todo movimento.

Surge depois um Allegretto. Esse movimento possui uma sonoridade estranha, misteriosa. A forma é também inesperada – a de uma passacaglia, um contraponto de duas partes (mão direita e mão esquerda do piano).

O ritmo obstinado do baixo se mantém em todo o movimento. Sobre esse baixo, Haydn superpõe uma linha melódica que vai mudando e que tem ritmos diferentes do ritmo do baixo. 

Após dois movimentos de escrita tão densa, não podia haver maior contraste do que no Allegro final, leve e elegante.

Haydn – Trio nº 44 em Mi Maior, Hob. XV:28 | Van Baerle Trio

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