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Este concerto foi o segundo de três concertos para piano que Mozart escreveu para a Quaresma de 1786 (os outros dois são os nºs 21 e 22).
Durante a Quaresma, as peças de teatro ficavam fechadas e Mozart apresentava então suas novas obras para o público vienense. Nessa época ele estava também terminando As Bodas de Fígaro. A música deste concerto não tem, porém, afinidade nem com a ópera, nem com os dois concertos desta estação. Lembra, sim, duas obras que Mozart iria compor anos depois: o Quinteto e o Concerto para clarineta.
A semelhança entre essas obras e o presente concerto não se deve tanto à tonalidade comum de lá maior. Tampouco à orquestração do K. 488, que omite trompetes e tímpanos e usa clarinetas em vez dos oboés de praxe. Ela vem de um clima de introspecção partilhado e de um discurso musical comovente por sua reserva.
Esse é talvez o menos brilhante dos concertos para piano de Mozart, mas é certamente um dos mais bonitos.
O primeiro movimento com seu chiaroscuro de contrastes emocionais é a essência da doçura e da reticência mozartianas. Diz o musicólogo C. Girdlestone: “A luz do primeiro movimento é a de um dia de março, o mês em que foi composto, em que um pálido sol brilha sem convencer, entre pancadas de chuva”.
O ponto alto emocional dos concertos para piano de Mozart é quase sempre o segundo movimento. O Adagio do K. 488 é, no entanto, excepcional, mesmo entre os concertos de Mozart. A intensidade de seu sentimento prenuncia o Romantismo.
Ao longo de todo o movimento, Mozart, o pianista, se imagina um cantor de ópera. Perto do fim, ele escreve uma passagem de caráter especialmente operístico. As cordas tocam acordes simples, quebrados, parte pizzicato, parte arco, sobre os quais o piano apresenta uma melodia apaixonada.
Depois da reserva do primeiro movimento e da melancolia do segundo, Mozart nos dá um final alegre e encantador. O pianista está sempre ocupado, com música que por vezes se aproxima do moto perpétuo.
Mozart – Concerto para piano e orquestra nº 23, em Lá Maior, K. 488 | Radu Lupu (piano), Sandor Vegh (regente) e Orquestra Filarmônica de Viena