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MozartMÚSICA DE CÂMARA

Mozart – Quinteto para Clarineta e Cordas em Lá Maior

Mozart tinha fascinação pela clarineta, desde que a conheceu aos sete anos de idade, em Mannheim. O instrumento tem papel de destaque em muitas de suas obras: óperas, sinfonias, concertos para piano e música de câmara.

O ano de 1789 foi muito atribulado para Mozart, com dificuldades financeiras, de saúde e de trabalho. Na época do Natal, o compositor teve a oportunidade de contribuir para o Concerto Anual em benefício das viúvas e órfãos dos membros da Associação de Músicos de Viena. Seu amigo e grande virtuoso da clarineta, Anton Stadler, também  participaria do evento. Mozart teve, então, a ideia de compor o Quinteto para Clarineta, que estreou no dia 22 de dezembro de 1789, no Burgtheater de Viena, com Stadler tocando clarineta e Mozart, viola.

Os comentaristas não poupam superlativos à obra:

“A simples descrição verbal não dá sequer uma pálida ideia das glórias do Quinteto. Esta é música soberana, com toda a maestria técnica do Mozart dos últimos anos e a profundidade emocional que marca sua música neste período.”

“Ternura e um suave lirismo são, talvez, as palavras que chegam mais perto de uma descrição da beleza da obra. As cordas estabelecem o tom íntimo da peça no primeiro compasso, mas, quando a clarineta entra, as portas de um reino mágico, até então desconhecido, parecem abrir-se diante de nós.”

H.C. Robbins Landon, grande autoridade em Haydn e Mozart, aborda um aspecto diferente da obra – o seu significado na época em que foi escrita: “Se existe uma obra que espelha o ano infeliz de 1789, é esse Quinteto. Partes dele parecem refletir um doloroso desespero, mas o todo não é apresentado em um violento tom menor e sim em um radioso Lá Maior. A música sorri entre lágrimas”.

O primeiro movimento, Allegro, abre com um tema de grande pureza. É como diz Hyatt King: “Música com aquela qualidade radiante, flutuante, que é uma das marcas do último estilo de Mozart”.

O violino apresenta o segundo tema. Quando a melodia passa para a clarineta, a tonalidade vai de maior para menor, o acompanhamento torna-se agitado, sincopado e, por um momento, o Classicismo cede ao Romantismo.

O Larghetto que se segue tem sido considerado o coração da música de câmara de Mozart. Diz um autor: “A música atinge aqui aquele estado de sublime exaltação que a faz o equivalente musical das árias de Sarastro na Flauta Mágica“.

Merece destaque especial o cuidado com a sonoridade – o som de seda das cordas em surdina, contrastando com o murmúrio aveludado da clarineta.

Nessa obra, até o Minueto evita grandes arroubos e se mantém composto, elegante e equilibrado. Ele tem dois trios: o primeiro é uma peça apaixonada, em tom menor, escrito para cordas apenas, dando à clarineta um repouso merecido; o segundo, apresenta a clarineta em um gracioso Ländler, uma dança austríaca. 

O final, Allegretto, com seis variações, se baseia em um tema de cunho folclórico. A terceira variação é um lamento, um solo cromático para a viola, que o próprio Mozart interpretou na estreia, como foi dito. A quinta variação é um Adagio lírico e introspectivo, depois do qual, a conclusão rápida parece ainda mais irresistível.

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Mozart - Quinteto para Clarineta e Cordas em Lá Maior, K. 581 | Sabine Meyer (clarineta) e Armida Quartet