Bach escreveu dois Magnificats: o primeiro cantado em latim e o segundo, a Cantata BWV 10, em alemão.
O Magnificat em latim foi composto para seu primeiro Natal em Leipzig, em 1723. O texto é do Evangelho de Lucas 1:45–55, quando Isabel, prima de Maria, anuncia-lhe que ela será mãe do Senhor. Maria entoa um hino de louvor a Deus, “Magnificat anima mea”: Minha alma exalta o Senhor.
É uma peça compacta, com 12 movimentos breves que duram, em média, menos de 2 minutos e meio cada. Não há recitativos nem árias da capo, como nas Cantatas e Paixões. Bach usa aqui diferentes estilos, desde o tradicional de cânones e fugas até a escrita quase operística de alguns solos.
A obra começa com uma brilhante introdução orquestral em que os trompetes figuram com destaque e que leva a um coro igualmente festivo e alegre.
O Magnificat latino é uma das composições de Bach em que a ligação entre as palavras e a música é mais clara. São exemplos disto o coro de abertura e o dueto Et misericórdia.
Outro exemplo interessante é a ária Qui fecit mihi magna (porque ele fez muito por mim grandes coisas), em que as palavras de Maria são confiadas ao baixo, que explora com melismas as palavras “magna” e “potens”.
O Gloria final abre com um ritmo em uníssono que se desdobra depois em uma sequência em que as vozes se superpõem, acompanhadas pelas trombetas dos anjos. Vem, em seguida, o Sicut erat (como era no princípio, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos). Notem a cadência final na palavra saeculorum (séculos dos séculos).
Bach – Magnificat em Ré Menor, BWV 243 | Netherlands Bach Society regida por Jos van Veldhoven
Já a Cantata BWV10, “Meine Seel erhebt den Herren” (Minha alma exalta o Senhor), conhecida como o Magnificat Alemão, foi escrita por Bach para a festa da Visitação de Maria, no dia 2 de julho de 1724, seis meses depois de seu Magnificat em latim.
Há uma diferença entre o clima etéreo do Magnificat latino e a intensidade da abertura do Magnificat alemão. A ária de bravura para o soprano que se segue é também de grande energia, espelhando o texto: “Senhor, tu és forte e poderoso, maravilhosos são teus trabalhos”.
A segunda ária, “Deus destrona os poderosos”, tem em comum com a primeira o tema da força e do poder, mas, aqui, Bach ilustra, com muito humor, não só o poder, mas também sua queda nas escalas descendentes do baixo e do contínuo.
O destaque é para o dueto contralto-baixo, em que o coral é entoado pelo misterioso som do trompete, evocando o clima rarefeito do Magnificat latino.
Um coral belo e simples encerra a cantata.
Bach – Cantata BWV 10, “Meine Seel erhebt den Herren” | Netherlands Bach Society regida por Marcus Creed