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Gretchen am Spinnrade (Margarida à roca de fiar)
Em 19 de outubro de 1814, acontece um evento que muitos consideram como o nascimento do Lied romântico alemão. Schubert, então com 17 anos, compõe Gretchen am Spinnrade (Margarida à roca de fiar), com poema do Fausto de Goethe. Esta é uma das canções sobre poemas de Goethe que Schubert envia a ele em 1816.
Uma das características do Lied romântico alemão é a grande importância do piano. “A novidade, o golpe de gênio da obra”, diz John Reed, “está na parte do piano, que confere unidade à peça. E este acompanhamento? Esse som do pé sobre o pedal seria uma pintura desenvolvida a partir da roca? Ou será a expressão simbólica de inquietude espiritual? O que temos é pintura emocional, com os sentimentos se transformando em argila nas mãos do compositor.”
A suspensão da figuração do piano nas palavras “Ah, sein Kuss!” (Ah, seu beijo) é mais poderosa e comovente do que o poderia ser qualquer declamação
A minha paz se foi, meu coração está pesado.
Não, nunca mais vou encontrar a paz.
Quando ele não está comigo, é a morte para mim.
O mundo inteiro se transforma em veneno.
Minha pobre mente perdeu o juízo,
Meu pobre espírito se despedaçou.
É por ele só que eu vou à janela,
É por ele só que eu saio de casa.
Seu andar altivo, sua nobre figura,
O sorriso de seus lábios, o poder de seus olhos.
De suas palavras, mágica corrente,
A pressão de sua mão, ah, seu beijo!
Meu coração se lança em sua direção.
Ah, se eu pudesse abraçá-lo e guardá-lo para mim,
E beijá-lo tanto quanto quisesse,
Em seus beijos, dissolver-me.
Schubert – Gretchen am Spinnrade | Kiri Te Kanawa (soprano) e Richard Amner (piano)
Schäfers Klagelied (Lamento do Pastor)
O poema Schäfers Klagelied (Lamento do Pastor) tem uma história interessante e ilustrativa das interdependências entre a canção folclórica, a poesia romântica e o Lied. Escrito em 1801, ele se baseia em uma canção folclórica que Goethe ouviu em uma festa. Ele gostou tanto da melodia que decidiu escrever uma nova letra para ela.
Em 1814, Schubert coloca em música a letra, ou seja, o novo poema de Goethe. Eis um percurso curioso: da canção folclórica, Goethe conserva a melodia e escreve nova letra; Schubert, por sua vez, conserva a letra de Goethe e escreve nova música. Do original resta, assim, na melhor das hipóteses, o arcabouço.
Esta foi a primeira canção de Schubert a ser executada em público.
O poema de Goethe fala de um pastor na lida diária, conduzindo o rebanho por montanhas e vales, mas seu coração está pesado, seu canto é um lamento.
Schubert – Schäfers Klagelied | Johannes Kammler (barítono) e Ricardo Gosalbo (piano)
Wandrers Nachtlied (Canção noturna do peregrino)
Nesta canção, poema e música são sublimes em sua simplicidade:
Você que vem do céu,
Que acalma todos os males e dores,
Que duplo reconforto dispensa
Ao homem duas vezes miserável.
Ah, estou cansado de vagar!
Que sentido tem toda dor e alegria?
Doce paz!
Vem, ah, vem ao meu coração!
Schubert – Wandrers Nachtlied | Dietrich Fischer-Dieskau (barítono) e Gerald Moore (piano)
Heidenröslein (A rosa silvestre)
Esta obra se tornou uma canção popular na Alemanha. Um menino encontra uma rosa silvestre e resolve colhê-la. A rosa protesta e ameaça feri-lo com seus espinhos. As duas coisas acabam acontecendo: o menino arranca a rosa e ela o espeta.
Schubert – Heidenröslein | Peter Schreier (tenor) e Walter Olbertz (piano)
É interessante compará-la com Das Veilchen (A violeta), uma canção de Mozart sobre um poema semelhante de Goethe:
Mozart – Das Veilchen | Kathleen Battle (soprano) e Warren Jones (piano)
Bundeslied (Canção da união)
Neste poema, tipicamente alemão, os bons companheiros, já ligeiramente tocados, brindam à amizade, à união e ao futuro:
Em todos os bons momentos,
Exaltados pelo amor e pelo vinho,
Que esta canção que nos une
Seja cantada por todos nós!
Deus, que nos trouxe aqui,
Mantenha-nos unidos,
Insufle e renove nossas chamas.
Schubert – Bundeslied | John Mark Ainsley (tenor), Simon Keenlyside (barítono), Michael George (baixo) e Graham Johnson (piano)
Nähe des Geliebten (Proximidade da amada)
Um eterno tema de toda a poesia e de toda a música é o amor, especialmente o amor distante, impossível e contrariado. Esta canção é uma litania sobre a constância do amor: onde quer que o poeta esteja, sua amada está sempre presente.
Eu penso em você quando o sol brilha, vindo do mar;
Eu penso em você quando a lua cintila nas fontes.
Eu vejo você quando a poeira se levanta nos caminhos distantes;
Na calada da noite, quando, na ponte estreita, o andarilho treme.
Estou com você, não importa o quão longe esteja.
Você está perto de mim!
O sol está se pondo, logo as estrelas brilharão para mim.
Ah, se você estivesse lá!
Schubert – Nähe des Geliebten | Dietrich Fischer-Dieskau (barítono) e Gerald Moore (piano)
Rastlose Liebe (Amor em repouso)
O poeta atravessa impetuosamente uma tempestade de neve. A canção é uma explosão de energia, um turbilhão de emoções.
Como fugir?
Para dentro da floresta?
É tudo em vão!
Coroa da vida,
Felicidade sem paz –
Amor, isso é o que és.
Schubert – Rastlose Liebe | Kiri Te Kanawa (soprano) e Richard (piano)
Erster Verlust (Primeira perda)
Aqui, a música de Schubert mistura a alegria e a tristeza que vêm dos belos tempos do primeiro amor de que fala o poeta:
Ah, quem vai trazer de volta aqueles dias lindos,
Os dias do primeiro amor?
Ah, quem vai trazer ao menos uma hora
Daquele doce tempo?
Sozinho, alimento minha ferida e,
Sempre, renovo meu pesar,
Lamentando a felicidade perdida.
Schubert – Erster Verlust | Hugo Hymas (tenor) e Dinis Sousa (piano)
Der König in Thule (O rei de Tule)
Este é um dos poemas mais famosos de Goethe.
Carlos Drummond de Andrade o relembra em “Nova canção (sem rei) de Tule”:
Há muito, muito, muito tempo,
um Rei de Tule, apaixonado,
jogou ao mar a taça dourada
em que bebera todo o amor.
Schubert recria magistralmente o tom de uma lenda muito antiga.
Schubert – Der König in Thule | Dietrich Fischer-Dieskau (barítono) e Gerald Moore (piano)
Meeres Stille (Calmaria)
Esta é uma peça francamente impressionista. As modulações inquietantes do piano mostram que a calma total do oceano é, na verdade, sinistra.
Calma profunda reina sobre as águas.
O oceano jaz imóvel.
Preocupado, o barqueiro vê a lisa superfície
A sua volta, nenhuma brisa, de lado algum.
Silêncio mortal, terrível.
Na extensão imensa, nenhuma onda se levanta.
Schubert – Meeres Stille | Christoph & Julian Prégardien (tenores) e Michael Gees (piano)