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“No Quarteto nº 15 em Sol Maior, D. 887, último e maior de seus quartetos, Schubert parece querer abranger o mundo. Em poucas – talvez em nenhuma – de suas obras estão representadas tantas facetas da personalidade musical do compositor, especialmente no primeiro e no último movimentos, em que extremos opostos são justapostos no espaço de poucos compassos. Talvez por isso ele seja menos executado do que o Quarteto nº 13, Rosamunde, e o Quarteto nº 14, A Morte e a Donzela – é simplesmente difícil e desafiante demais”, afirma o crítico britânico Stephen Johnson.
Schubert escreveu um pequeno ensaio, Meu Sonho, que parece sintetizar muito da essência de sua música: “Durante muitos anos eu me senti dilacerado entre a maior dor e o maior amor… Sempre que eu tentava cantar de amor, ele se transformava em dor. E também, quando tentava cantar de dor, ela se transformava em amor. Assim, amor e dor estavam divididos em mim”.
No Quarteto nº 15, Schubert joga com o contraste entre tom maior e tom menor em uma constante ambiguidade entre os dois. Já no início do primeiro movimento, esse jogo está presente nos dois primeiros compassos – Sol maior seguido por Sol menor – e continua ao longo de todo o movimento.
O segundo movimento é de extremos contrastes. O início suave e gentil nos embala, mas é depois interrompido pelo ritmo forte dos primeiros compassos da abertura. O episódio que se segue é um dos mais terríveis da música de câmara – um clima de pesadelo: passagens ascendentes rápidas e em tremolo remetem a estocadas aterrorizantes. A volta tranquilizadora do tema de abertura é comprometida pela certeza de que o pesadelo vai voltar.
O Scherzo mendelssohniano parece leve, mas há um tom de ameaça subjacente. Já o Trio é um inocente Ländler (dança popular germânica em compasso de 3/4 ou 3/8, precursora da valsa).
O Final é da mesma família de Tarantellas dos finais do Quarteto A Morte e a Donzela e da Sonata para Piano D. 958. Sua forma é uma mistura de sonata e rondó. Tem a energia de uma longa cavalgada noturna em campo aberto. Novamente aqui estão justapostos extremos opostos, em tonalidade e em clima.
Terminamos, finalmente, na mesma tonalidade do início, com um sentimento de aceitação e esperança.
Schubert – Quarteto nº 15 em Sol Maior, D. 887 | Quarteto Doric