Imagem: Soldado compra ingresso para um concerto com música de Shostakovich, Leningrado, 1942.
Escrito em 1944, o Trio para Piano e Cordas nº 2, Op. 67, de Shostakovich, é uma obra tensa e trágica, influenciada pelos anos da Segunda Guerra Mundial. Foi dedicado à memória de Ivan Sollertinsky, um dos melhores amigos e defensores do compositor.
A peça é formada por quatro movimentos, sendo o Finale o mais desenvolvido dos quatro.
Seria interessante verificar algumas percepções muito diferentes da crítica a respeito desse movimento:
- O humor mordaz de Shostakovich é evidente no movimento final;
- Sobre notas repetidas do piano, o violino dedilha uma dança diabólica. O violoncelo se junta aos dois e então o frenesi de Shostakovich se instala. Depois de toda esta grotesquerie, a obra termina com acordes suaves nas cordas, pizzicato e um acorde sustentado no piano – todos em um reconfortante mi maior;
- No Finale, a música tem o caráter de uma dança folclórica cerimonial, uma dança de guerra, ou uma sombria procissão;
- Digno de nota é o uso de música judaica nesse movimento. Como Shostakovich explicou, “a característica distintiva da música judaica é sua capacidade de construir uma melodia alegre sobre entonações tristes. Por que uma pessoa canta uma canção alegre? Porque seu coração está triste”;
- Isto leva ao clima de dança macabra do final, que chega a um frenesi e que contém material folclórico judaico claramente identificado;
- Finale (Allegretto) – notas repetidas em staccato dão início a esta Dança da Morte, que introduz uma melodia de estilo judaico. O movimento termina em um torturado acorde em mi maior, quase inaudível;
- O compositor e crítico Arthur Cohn nota, em seu estilo sucinto, mas agudamente perceptivo, que Shostakovich retrata aqui “a horrível dança forçada de judeus antes de serem executados por metralhadoras”.
Sugiro que vocês ouçam a música e formem sua própria opinião.