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O segundo estilo de Beethoven, que durou cerca de dez anos (1802 a 1812), é geralmente chamado de “heroico”, transcorrendo dos 31 aos 41 anos de idade do compositor. As obras desse período se caracterizam por uma luta contra a adversidade que termina invariavelmente em triunfo.
Uma das mais gloriosas afirmações do heroísmo musical de Beethoven é o seu Concerto para Piano e Orquestra nº 5, “Imperador”. Embora não tenha sido dado pelo compositor, seu cognome é inteiramente justificado.
O musicólogo Alfred Einstein escreveu um estudo sobre o estilo militar de Beethoven, presente na maior parte de seus Concertos. Neste aspecto, Beethoven foi muito influenciado pelo estilo militar francês, e especialmente por Giovanni Battista Viotti, compositor italiano que morava na França.
Einstein afirma que este estilo militar é inconfundível: “Podemos caracterizá-lo por um andamento de marcha rápido, que avança audaciosamente, com crescente intensidade e um ritmo sempre pulsante, em colcheias – muito embora, acima deste ritmo, pairem algumas melodias cantabile, femininas, e se elevem trinados e figurações virtuosísticas”.
O Concerto nº 5 começa com um poderoso acorde, seguido por um amplo floreio, no estilo de uma cadenza pelo piano. Os acordes, intercalados pelas cadenzas do piano, repetem-se duas vezes antes que a orquestra apresente o primeiro tema. O movimento é majestoso, de grandes proporções e escala heroica.
No ponto onde tradicionalmente se esperaria uma cadenza, Beethoven escreve em italiano na partitura: “Non si fa una Cadenza, ma s’attacca súbito il seguinte” (Não há cadenza, mas se toca imediatamente o seguinte). A música que se segue tem, no entanto, todas as características de uma cadenza. O compositor queria ter certeza de que suas ideias prevalecessem, inclusive a do acompanhamento do piano pelas trompas, que certamente não faria parte de uma cadenza convencional.
O maravilhoso Adagio que se segue é baseado, segundo Czerny, em um hino austríaco de peregrinos. O movimento se inicia com os violinos em surdina que introduzem o tema. Depois vem uma ária em pianíssimo no piano. Escrito naquela que é, segundo uma tradição, a tonalidade celestial de Si maior, o movimento é uma meditação serena e recolhida, uma das mais belas e ternas criações de Beethoven.
No final do Adagio surge uma passagem mágica, nebulosa e misteriosa. Diz um comentarista: “O solista toca um arpejo que não se sabe de onde vem, como em um sonho. Mas, quando a música acorda, ela irrompe em um tema vitorioso, transformando aqueles arpejos contemplativos na melodia que forma a base do Rondó”.
Mas Beethoven ainda nos reserva uma outra passagem de grande originalidade e encanto. Na coda, no finalzinho do Concerto, o pianista vai tocando cada vez mais devagar e mais baixo, acompanhado só pelos tímpanos. Quando chega a adagio, o andamento acelera novamente e a obra termina abruptamente com alguns acordes enérgicos da orquestra.
Beethoven – Concerto para Piano e Orquestra nº 5 em Mi Bemol Maior, Op. 73, “Imperador” | Claudio Arrau (piano), Sinfônica de Londres, Colin Davis (regente)