CONTATO
Entre em contato conosco.
A Sinfonia nº 5 faz parte de um momento singular da vida de Beethoven. Em maio de 1802, seguindo conselhos médicos, Beethoven, então com 31 anos, vai para Heiligenstadt, um lugarejo perto de Viena, para descansar.
Deprimido pela enfermidade que vem se agravando, ele escreve, em 6 de outubro, O testamento de Heiligenstadt, em que revela sua surdez e expressa sua revolta. Endereçado a seus irmãos Carl e Johann, o documento nunca foi enviado:
“Considerem que, nos últimos seis anos, tenho vivido num estado desastroso agravado por médicos estúpidos, enganado pela esperança de melhorar e, finalmente, forçado a enfrentar a perspectiva de um mal duradouro, cuja cura pode durar vários anos ou mesmo ser impossível […]
Como poderia admitir a fraqueza de um sentido que em mim deveria ser mais perfeito que nos outros, um sentido que eu tinha tido outrora em um grau de perfeição que poucas pessoas na minha profissão podiam igualar […]
Passei seis meses no campo, seguindo o conselho de meu inteligente médico de poupar minha audição tanto quanto possível… Às vezes levado pelo desejo de companhia, cedia à tentação… Mas que humilhação quando alguém perto de mim ouvia uma flauta ao longe ou um pastor cantando, e eu não ouvia nada. Esses incidentes me levavam ao desespero e faltou muito pouco para que pusesse fim à minha vida. Somente a arte me deteve.”
De alguma maneira, sabe Deus como, Beethoven conseguiu superar essa crise. Depois dela, não só retomou seu trabalho de compositor, mas passou a produzir música de incrível audácia e poder expressivo.
São dessa fase a Terceira Sinfonia (“Eroica”), a Quarta, a Quinta e a Sexta (“Pastoral”), a ópera Fidélio, a Sonata “Appassionata”, os três quartetos dedicados ao conde Razumovsky, o Concerto para Violino e o Concerto para Piano nº 4, entre outras obras.
Segundo Richard Bratby, a Sinfonia nº 5 se tornou a mais famosa sinfonia já escrita, seja como expressão da luta pessoal de Beethoven, seja como um divisor de águas da música ocidental.
A luta do indivíduo por sua autorrealização – ideia que ela representa com uma força sem precedentes – se tornaria o ideal definidor de todo o movimento romântico do século XIX, estando também na raiz da democracia moderna.
O ritmo da famosa abertura do Allegro con Brio, conhecida como Tema do Destino, é a base de todo o movimento, retornando em momentos cruciais dos movimentos seguintes. A música se torna mais tensa e enérgica e um trágico conflito emocional se revela.
No Andante con Moto seguinte, Beethoven retrabalha um conjunto de variações duplas (variações sobre dois temas que se alternam) à maneira de Haydn. O clima é cadenciado e tranquilo, interrompido três vezes por triunfantes eclosões que retornam, por misteriosas mudanças de tonalidade, à calma inicial.
No Scherzo que segue, o tema, apresentado baixinho pelas cordas graves, parece fantasmagórico e cheio de maus presságios. Esse aspecto ameaçador é confirmado, mais adiante, pelo reaparecimento do Tema do Destino.
No Trio da seção central, a orquestra persegue os contrabaixos e violoncelos resmunguentos, em imitação contrapontística. Essa seção às vezes é chamada de Dança dos Elefantes. Quando acaba, começa a Dança dos Fantasmas.
O drama dirige-se ao fim. Reaparecem a atmosfera fantasmagórica do Scherzo e o Tema do Destino. Esse recurso, tão admirado por gerações de compositores, prepara uma recapitulação dos temas e a dramática passagem das trevas para a luz, do desespero para a alegria – afinal, o sentido não só desse movimento, mas de toda a Sinfonia.
Extremamente forte e solidamente estruturada, a música abrange toda a gama das emoções humanas, da tristeza mais profunda à alegria mais exuberante.
Beethoven – Sinfonia nº 5 em Dó Menor, Op. 67 | Filarmônica de Viena | Carlos Kleiber (regente)