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Beethoven – Variações Diabelli, Op. 120
BeethovenBeethoven: Terceira Fase

Beethoven – Variações Diabelli, Op. 120

Em 1819, Anton Diabelli, editor musical e compositor, convidou todos os compositores e virtuoses do pianoforte ativos no Império Austro-Húngaro a compor, cada um, uma variação sobre uma Deutsche que ele havia composto. Diabelli frisou bem que se tratava de uma Deutsche, uma variante particularmente alemã da valsa, mais rústica do que elegante, mais camponesa do que aristocrática.

O projeto tinha objetivos filantrópicos: angariar recursos para as viúvas dos soldados mortos na guerra. O produto final seria uma antologia intitulada Vaterländische Künstlerverein (Aliança Patriótica dos Artistas).

As respostas vieram em grande número: Czerny, aluno de Beethoven e professor de Liszt, foi o primeiro, contribuindo não só com uma variação, mas também a coda, o encerramento da peça. Liszt, então com 11 anos, também compareceu, assim como outro aluno de Beethoven, o Arquiduque Rodolfo. Podemos citar ainda Hummel, Schubert e Wolfgang Amadeus Mozart Filho. Quando Diabelli publicou a Antologia, em 1824, ela compreendia 50 variações.

Beethoven e as Variações

Beethoven não gostava da valsa de Diabelli, “uma obra feita de remendos, pedestre e estúpida”, dizia ele. Mas certamente encontrou nela possibilidades combinatórias interessantes.

Compôs a princípio variações para mostrar seu desprezo pelo tema, ridicularizando-o, jogando com ele e transformando-o em outras coisas. Um exemplo é a paródia que faz da ária do personagem Leporello, “Notte e giorno faticar”, da ópera Don Giovanni, de Mozart. O pianista Piotr Anderszewski comenta: “Poucas são as peças com tanto humor, espírito e ironia. Um exemplo é a paráfrase do Don Giovanni”.

Beethoven já tinha 15 variações esboçadas em maio de 1819, pouco depois da convocação de Diabelli. Mas aí teve de interromper o trabalho porque a Missa Solene exigia sua atenção, assim como suas três últimas sonatas para piano.

Quando voltou ao projeto, em 1822, ele enfrentou um dilema: as variações existentes, já em número de 23, não formavam um todo satisfatório. Daí, das duas uma: ou reduzia o material para uma escala mais modesta ou o estendia ainda mais.

Ofereceu então a Diabelli duas opções: uma versão com sete variações, ou um conjunto em escala muito maior, por uma vultosa quantia adicional – 40 ducados. Felizmente a versão completa foi a escolhida e Beethoven terminou a obra em abril de 1823. Ele acrescentou dez variações e retrabalhou muito a conclusão. Chegou assim ao total de 33 variações.

As magníficas Variações Diabelli estão entre as maiores obras de Beethoven. Ele tomou uma valsa banal e a transformou em uma obra-prima de incrível criatividade e porte. Para o regente e pianista Hans von Büllow, elas “são um microcosmo da arte de Beethoven”.

A comédia nunca está ausente nesta obra. Ela é, em certo sentido, uma grande gozação do Olimpo em cima do pobre Diabelli. Ele é ridicularizado, execrado, humilhado.

No final, após a Variação 28, a peça entra, sem aviso, no mundo do Dó menor. Surgem três variações de crescente beleza e crescente tristeza. Então, o tom muda para a dominante, Mi bemol maior, e vem uma fuga.

Mas Beethoven tem ainda uma última carta a jogar: a fuga se interrompe em pleno voo e, quando as nuvens se dissipam, vemos que o Dó maior foi recuperado. Diabelli reaparece então canonizado e sua pobre valsa camponesa transfigurada em um Minueto da mais perfeita simplicidade. Ele floresce em uma celestial coda em que tudo parece se dissolver e retornar aos elementos puros dos quais a obra foi criada.

Beethoven – Variações Diabelli, Op. 120 | Piotr Anderszewski (piano)

 

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