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Brahms - Sinfonia nº. 3 em Fá Maior, Op. 90
MÚSICA ORQUESTRAL

Brahms – Sinfonia nº. 3 em Fá Maior, Op. 90

Brahms compôs sua Sinfonia nº. 3 em apenas quatro meses, tempo muito curto para ele. Esta é a mais breve de suas quatro sinfonias. Sua estrutura é compacta e seu material temático reaparece em vários movimentos.

Clara Schumann, sua amiga e confidente de muitos anos, chama a atenção para a coesão da obra.

“Todos os movimentos parecem ser de uma única peça, cada um é uma joia! Do início ao fim, estamos envolvidos no charme misterioso dos bosques e florestas. Não pude dizer de qual deles gostei mais.

O primeiro tema retorna no fim do primeiro e do último movimentos. Em contraste com a turbulência apaixonada comum em Brahms, há uma suave intimidade nesta sinfonia, seus quatro movimentos terminam em pianíssimo.

O recurso que unifica a obra é o motivo recorrente de três notas F-Ab-F (Fá, Lá bemol, Fá), que corresponde ao lema de Brahms: Frei–aber–froh (Livre–mas–alegre).

O maestro sueco Herbert Blomstedt faz uma bela introdução sobre a Terceira Sinfonia no vídeo a seguir (legendado):

Brahms – Sinfonia nº. 3 em Fá Maior, Op. 90 | Orquestra do Concertgebouw regida por Herbert Blomstedt (legendado)

A fala de Herbert Blomstedt sobre a sinfonia segue traduzida abaixo:

“A Terceira Sinfonia de Brahms é a menos executada de suas quatro sinfonias, o que não é compreensível, já que, na opinião de muitos, esta é a melhor de todas e foi certamente a mais bem-sucedida em sua vida. Quando foi tocada em Viena, em 1883, foi um enorme sucesso para Brahms. 

A razão de não ser tocada mais vezes é porque ela termina em pianíssimo.

E não é somente seu último movimento que termina assim – sem ser triunfante –, mas também todos os outros. 

Eu tinha um grande colega em Hamburgo, com um grande senso de humor. Seu nome era Hans Schmidt-Isserstedt. Ele foi o fundador da Orquestra da NDR, uma das melhores orquestras de rádio na Alemanha. Ele era um grande amigo meu e me disse, com seu humor especial: “é impossível tocá-la: acaba em pianíssimo! O público não vai gostar, não vai aplaudir! Porque o público gosta de emoção, nanan waan…!”. 

E não há nada disso na Terceira Sinfonia, o que há é resignação. Não é uma sinfonia trágica, seus movimentos não acabam em tragédia, mas isso não a torna frágil. Movimentos muito dramáticos, como o primeiro e o último, cheios de energia, de raiva, de luta, fazem dela a “sinfonia heroica” de Brahms! A terceira de Beethoven é a sua heroica; a de Brahms também. Mas os finais de seus movimentos têm cores outonais, com céus iluminados, tudo de grande beleza, em paz. Eu gosto especialmente desta sinfonia. 

Essa é também a mais curta das sinfonias de Brahms, não por uma grande diferença – 35, 36 minutos, contra os 40, 45 até 50 das outras. É muito compacta, muito coesa, não há nenhuma nota em excesso: tem tudo o que é necessário para criar uma bela impressão.

É também muito ambígua, às vezes – isto é típico de Brahms. A arte depende muito dessa ambiguidade. Se todo mundo entendesse uma obra na primeira audição, provavelmente ela não seria muito boa. Mas se uma obra é cheia de significados, em diferentes níveis, ela se torna muito interessante. 

É como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. O que tornou o quadro tão famoso? Não foi somente sua beleza, mas sim por ele ser tão ambíguo, tão enigmático. Porque ela sorri assim? Ela está feliz, talvez um pouco triste também? Não se sabe – isso foi interpretado de tantas maneiras diferentes.

Assim também é esta sinfonia. Ela começa em Fá maior, com um grande acorde, tchaam! Mas logo no próximo acorde, você fica em dúvida: será que é uma música alegre? Agora ela vai para Lá menor, triste… No terceiro compasso, a música fica novamente alegre… Você fica na dúvida entre tantas diferentes possibilidades. 

Isto é muito emocionante, e quanto mais você entende, mais emocionante se torna. É também incrivelmente bonito. Ouça o segundo tema no primeiro movimento: a clarineta e o fagote tocam la-ri-ra-la-ri… Isto é típico da arte de Brahms.

O segundo movimento é puro êxtase. O terceiro movimento é muito curto, talvez com quatro ou cinco minutos. Você não tem a chance de ficar entediado. A melodia é tão bonita, la-ri-lara

Tocada pela trompa, depois pelo oboé e pelas cordas, a melodia aparece seis vezes, em formas diferentes, diferentes melodias. Ela prende você, você vai para casa e as cordas se repetem em sua mente. Maravilhoso, um pouco melancólico, típico de Brahms.

Brahms nasceu em Hamburgo, mas passou a maior parte de sua vida em Viena. Ele tem o espírito do norte, mas o amor, o sentimento e a abertura de Viena.

O próprio Brahms disse que nunca foi completamente feliz – havia sempre uma perturbação em sua mente, um sentimento de tragédia também. Ele era uma pessoa tipicamente melancólica. Muitos músicos são melancólicos por temperamento – podem estar muito felizes, mas há sempre algo de triste em sua alegria. E quando estão tristes, algo de alegre no fundo. É uma mistura maravilhosa.

O último movimento é cheio de energia, muito heroico. 

É cheio de contrastes. Mas depois dessa luta heroica, vem esta resignação outonal, em Fá maior novamente, tin-dam-taram…  É um final maravilhoso, a gente se sente em paz, em casa, no mundo novamente.”

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