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Brahms tinha 42 anos quando sua Primeira Sinfonia foi estreada. Perfeccionista e terrivelmente autocrítico, ele destruiu muitos de seus manuscritos.
No que se refere às sinfonias, ele se dizia intimidado pelas de Beethoven: “Vocês não têm ideia do que é ouvir os passos de um gigante como ele vindo atrás de você”, dizia.
A Sinfonia nº 4, a última sinfonia de Brahms, composta dez anos depois da Primeira, é um coroamento de sua obra e, ao mesmo tempo, música que fala ao coração, como só a música pode.
O primeiro movimento, que começa com soluços dos violinos, é dramático e apaixonado.
Já o segundo, conforme afirmou o jovem Richard Strauss a Brahms, “parece um cortejo fúnebre, desfilando em silêncio, pela noite adentro”.
O terceiro movimento, Allegro giocoso, foi o último a ser escrito e tem o caráter de um Scherzo, exceto pelo nome, ressoando alegre ao som dos triângulos.
O último movimento, um dos pontos altos na obra de Brahms, tem uma forma musical antiga, a de uma chacona, ou passacaglia, usada no período barroco. Temos aqui um conjunto de 32 variações breves sobre uma melodia recorrente no baixo continuo. Brahms usa, para esta linha, a melodia do baixo de uma cantata de Bach, a BWV 150 – Nach dir, Herr, verlanget mich (Anseio estar perto de ti Senhor).
A escolha desta cantata talvez já seja o prenúncio de um adeus. Por isso, a cena descrita por sua aluna e biógrafa Florence May parece apropriada: ela narra a última aparição de Brahms em público em Viena, já muito doente e menos de um mês antes de sua morte. Na ocasião, a Sinfonia nº 4 foi executada sob a regência de seu amigo, o grande maestro Hans Richter.
“Uma tempestade de aplausos se seguiu à execução do primeiro movimento e só parou quando Brahms, que estava sentado no camarote dos compositores, levantou-se e veio a público. A demonstração foi repetida ao fim do segundo e terceiro movimentos. Na conclusão da obra, deu-se uma cena extraordinária. A casa veio abaixo, em gritos e aplausos, todos voltados para a figura de pé no balcão, tão familiar e, ao mesmo tempo tão estranha, em seu triste aspecto atual. O público não queria deixá-lo partir. Ele estava encurvado, encolhido, com uma expressão cansada, os cabelos brancos escorridos. Lágrimas desciam por seu rosto enrugado. Na plateia, havia um sentimento que era algo assim como um soluço contido, porque todos que ali estavam sabiam estar dizendo adeus.”
Brahms – Sinfonia nº 4 | Bayerische Staatsorchester, Carlos Kleiber (regente)