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Dos três quartetos dedicados ao Príncipe Nikolaus Galitzin, o Quarteto nº 13 em Si Bemol Maior, Op. 130, é o último. Foi escrito entre julho e novembro de 1825, durante um dos poucos períodos de boa saúde que Beethoven teve nos últimos dez anos de sua vida.
Sobre sua estreia, escreve um comentarista:
“Houve problemas com a execução do Quarteto Schuppanzigh na estreia do Quarteto, Op. 127. Talvez por isso, Beethoven resolveu ficar em um café vienense na noite da estreia do Op. 130, esperando notícias. Karl Holz, segundo violino do conjunto e muito amigo de Beethoven, fez um relato favorável sobre a estreia: a execução tinha corrido bem e a plateia tinha sido entusiástica de modo geral, muito embora todos parecessem perplexos com os movimentos lentos e especialmente com o final, uma grande e complexa fuga. Holz tentou consolar Beethoven, dizendo-lhe que o público tinha pedido bis do segundo e do quarto movimento, que são mais leves. Beethoven ficou furioso: ‘Como? Aquelas delicatessen? Por que não a Fuga?…Só a Fuga deveria ter sido repetida!… Ralé!! Asnos!!!!’”
Alguns meses mais tarde, porém, atendendo a ponderações de amigos e de seu editor Artaria, Beethoven compôs um final alternativo para o quarteto, bem mais leve e mais breve. O Final original foi publicado mais tarde como a Grande Fuga, Op. 133. Só recentemente se retomou a prática de restaurar a Fuga a seu local de origem – o último movimento do quarteto.
Quarteto, Op. 130 – O quarteto querido
O Quarteto, Op. 130 tem o apelido de “Lieb” (caro, querido), que vem do próprio Beethoven, que assim se referiu a ele em seus escritos. O musicólogo Joseph Kerman dá a melhor visão de conjunto da obra:
“No Quarteto, Op. 130, o confronto de temas em diferentes tempos (andamentos) dá ao movimento de abertura um sentimento de algo ilusório, difícil de definir, até caprichoso. Um sentido deliberado de dissociação é intensificado pela sucessão de cinco movimentos, às vezes em tonalidades remotas, que têm o efeito de peças características em uma suíte barroca. O pequeno Presto febril é seguido por movimentos que Beethoven descreveu como Poco Scherzando, Alla danza tedesca e Cavatina, e depois pela Grande Fuga, que parece carregar em seus ombros a responsabilidade de colocar ordem na casa depois de tantas rupturas anteriores.”
A introdução é um Adagio, ma non troppo. Na verdade, não é propriamente uma introdução, pois retorna duas vezes ao longo do movimento: no fim da exposição e na coda. A cada vez que ela volta, segue-se uma luta pela supremacia entre a calma filosófica do Adagio e o Allegro, nervoso, agitado. No fim, o Allegro prevalece, vitória da dura realidade sobre a vã filosofia.
O Presto que se segue é o mais breve destes movimentos nos quartetos de Beethoven. Ele passa voando em menos de dois minutos, áspero e impaciente.
Beethoven escreveu “poco scherzando” acima dos primeiros compassos da partitura do terceiro movimento, Andante con moto, ma non troppo. Ou seja, este não é um movimento lento no sentido tradicional. É uma peça cheia de graça e elegância, com muitas ideias e melodias. Lembra Schubert e também prenuncia Mahler.
Refletindo sobre o Quarteto, Op. 130, Beethoven disse a Holz: “Você vai encontrar aqui um novo tipo de escrita para as partes e, quanto à fantasia, se Deus quiser, vai faltar menos do que nunca!”.
Decodificando esta construção alemã arrevesada: para “fantasia” podemos dizer imaginação e, por que não, gênio? Quanto “a faltar fantasia menos do que nunca”, o que estava realmente acontecendo é que Beethoven atravessava, então, uma fase de intensa inovação e de divina inspiração.
De seus cadernos de esboços, vemos que ele pretendia usar inicialmente a danza tedesca no Quarteto, Op.132, mas depois reconheceu nela o ponto fundamental para o Op. 130. Não há aqui a intenção de reproduzir um Ländler ou qualquer dança alemã. É uma dança idealizada. O musicólogo Michael Steinberg vê aqui um prenúncio das country dances de Mahler.
Vem em seguida a famosa Cavatina. Mas, afinal o que é cavatina aqui? O dicionário de música Grove dá duas definições do uso da palavra na ópera e, depois, esta terceira para obras instrumentais: “uma peça em forma de canção, por exemplo a Cavatina do Quarteto, Op. 130.” Karl Holz conta que Beethoven escreveu a cavatina entre lágrimas e tristezas. Mesmo a lembrança do movimento trazia lágrimas a seus olhos.
Beethoven traduziu sua inspiração em música de profunda simplicidade e pureza. Apenas em uma extraordinária passagem, marcada “beklemmt” (oprimido), o violino quebra o andamento da peça em um recitativo angustiado. O episódio dura apenas seis compassos, mas é um olhar no abismo.
Mas depois desta catarse, se assim podemos chamá-la, o violino se junta a seus companheiros para entoar novamente o tema da abertura.
Grande Fuga em Si bemol, Op. 133 – A Grande Fuga
Chegamos então à não menos célebre Grande Fuga, uma alentada construção contrapontística, que se compõe de cinco partes: uma abertura, três fugas sobre o mesmo tema e uma coda. Esta é uma peça que exige muito dos intérpretes e também dos ouvintes. Quanto à sua composição, Beethoven anotou “ora livre, ora refinada”.
Stravinsky resumiu a peça como sendo “música contemporânea que será para sempre contemporânea”.
Beethoven – Quarteto nº 13 em Si Bemol Maior, Op.130 | Quarteto Alban Berg
Beethoven – Grande Fuga em Si bemol, Op. 133 | Quarteto Alban Berg