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Beethoven Sonata Op. 31 nº 3 - A Caçada
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Beethoven – Sonata Op. 31 nº 3 – “A Caça”

Beethoven vinha explorando conscientemente novos rumos. Seu aluno Carl Czerny (1791-1857) relata que, entre a composição da Sonata Pastoral e as Sonatas do Opus 31, Beethoven dissera: “Não estou satisfeito com o trabalho que fiz até agora. De hoje em diante, vou tomar um novo caminho”.

A Sonata Op. 31 nº 3 foi escrita por Beethoven em Heiligenstadt, em 1802, pouco antes do famoso Testamento de Heiligenstadt (que já comentamos no post da Quinta Sinfonia). No Testamento, o compositor revela seu desespero pela surdez que está cada vez pior e fala até em suicídio. Mas essa sonata nada tem de trágico, pelo contrário.

A este propósito, o pianista Anton Kuerti faz uma advertência: “Beethoven está brincando conosco, está querendo nos pregar uma peça aqui. Se levarmos isso em conta e não perdermos tempo procurando alguma mensagem profunda, podemos relaxar e… apreciar a obra. A Sonata tem um Scherzo e um Minueto, mas não tem movimento lento – isto já é uma pista que Beethoven nos dá de que não se trata de uma obra ‘séria’”.

Não é uma obra séria no sentido convencional, mas é uma obra original. Beethoven está fazendo experiências. A Sonata deve seu apelido “A Caça” ao seu final – este título não se aplica ao resto da obra (da mesma forma como o título “Ao Luar” só se aplica a um dos movimentos da Sonata Op. 27 nº 2).

A impressão inicial que a Sonata Op. 31 nº 3 nos causa é a de que Beethoven está guardando alguma coisa para si, está hesitante. Mas quando o tema de abertura termina, um movimento rítmico constante em colcheias é iniciado. Mais adiante, no segundo tema, este ritmo se acelera, passando a semicolcheias. A atmosfera cômica destas passagens é acentuada, quando um motivo derivado do tema principal é repetido insistentemente no baixo.

Segue-se um Allegretto vivace que Beethoven chamou de Scherzo. Mas este não é um Scherzo típico: é em compasso 2/4 em vez de 3/4 e não tem Trio. O nome Scherzo (brincadeira) fica por conta de seu humor e de sua vivacidade rítmica. É interessante notar que, tal como no primeiro movimento, o início do Scherzo é também hesitante.

O terceiro movimento é um Minueto com Trio. O Minueto é sereno e lírico, mas o Trio contrasta bastante com este clima: é composto quase que só de acordes que se alternam entre o registro grave e o agudo do piano. Saint-Saëns usou este Trio nas suas Variações sobre um Tema de Beethoven, de 1784.

No Final, Beethoven retoma o tom cômico, quase grotesco do primeiro movimento. Este Presto con fuoco em rimo de tarantela é um moto perpetuo de incessante energia rítmica.

Beethoven – Sonata nº 18 em Mi Bemol Maior, Opus 31 nº 3 – “A Caça” | Igor Levit (piano)

 

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