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Maestro-Otávio-Simões - Playlist
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Terças Ilustres – #5 – Otávio Simões

Hoje, na coluna Terças Ilustres, apresentamos a playlist de Otávio Simões, maestro assistente da Amazonas Filarmônica e diretor artístico do Coral do Amazonas.

Natural de São Paulo, Otávio reside em Manaus desde 2013. Graduou-se em Regência pela Universidade de São Paulo (USP) e trabalhou por sete anos como stage manager e como maestro convidado em diversas montagens de ópera no Theatro Municipal de São Paulo e no Theatro São Pedro (SP). Desde novembro de 2019 ocupa a cadeira nº 17 da Academia Amazonense de Música.

Além de regente, Otávio atua também como tradutor, apresentador e é autor de cerca de 300 arranjos, orquestrações e adaptações diversas. Ministrou diversas aulas, como o curso “Entendendo a Música Clássica”, na cidade de São Bernardo, em 2008, e realiza conversas musicais antes dos seus concertos no Teatro Amazonas.

Ele nos escreveu um texto detalhando sua seleção musical:

“Embora criar playlists seja uma paixão pessoal (herdada de meu saudoso pai), é uma tarefa extremamente difícil quando vamos abri-la para apreciadores. A quantas opções musicais estamos sujeitos hoje! Milhões de gravações, milhares de possibilidades… tudo alcançado ao toque de um clique!

Depois de rascunhar várias playlists, acabei escolhendo a ideia mais trivial: quatro períodos, quatro estações da música: Barroco, Clássico, Romântico e Moderno. Quatro obras que não são necessariamente aqueles highlights inconfundíveis, mas vivem ali ao lado. São trabalhos, como sempre, de gênios e estão apresentados aqui em gravações cuidadosamente selecionadas.

  • Concerto de Brandenburgo nº 1 de Bach é de uma criatividade harmônica e de um colorido orquestral pouco esperados. Entre os seis concertos do ciclo, esse não é dos mais célebres, mas é meu favorito. Destaco seu segundo movimento, o Adagio, em suas dissonâncias severas que apoiam o oboé e violino solistas.

 

  • O Rondo K.382 foi escrito por Mozart aos 26 anos de idade (1782), recém-chegado em Viena. Elegante e extremamente engenhoso. A passagem em Ré menor, aos quase 4 minutos de música, mostra claramente o amadurecimento musical que estava começando a aparecer nas partituras do jovem prodígio. Abria-se um período recheado de obras primas em sua última década de vida.

 

  • Von der Wiebe bis zum Grabe (Do berço ao túmulo) é o 13º e último poema sinfônico de Franz Liszt, composto em 1882 – portanto, mais de 20 anos após a composição das últimas obras deste ciclo. De seus treze poemas sinfônicos, este é um de seus menos conhecidos e interpretados. Inspirada no pintor húngaro Mihály Zichy, a obra orquestral contém três partes bem seccionadas. Na primeira, “O berço”, a atmosfera é calma e a orquestração suave (2 flautas, harpa e cordas com surdina sem os instrumentos graves). Na seção central, “A luta pela existência”, ouvimos o Liszt extravagante e bravio dos tempos de juventude. No final, “Ao túmulo, o berço da vida futura”, cromático e obscuro, tudo vai se suavizando novamente. O velho Liszt dá esse caráter cíclico com o apoio filosófico de recomeço. A obra termina apenas com o naipe de violoncelos tocando uma linha melódica em piano e dolcissimoque vai desaparecendo. Escolhi esta gravação porque o regente holandês Bernard Haitink é meu maior ídolo. É uma das grande lendas da música clássica e hoje tem 91 anos. Exemplo de sobriedade e precisão.

 

  • Para encerrar essas “quatro estações” que escolhi, coloco uma sinfonia do século 20. A Sinfonia nº 7 de Prokofiev é curiosamente considerada sua melhor sinfonia por vários colegas russos meus, músicos da orquestra em que trabalho. E compartilho desta opinião desde que a conheci. Escrita um ano antes de sua morte, ela é na maior parte do tempo contida emocionalmente. Possui um caráter nostálgico, mas faz jus, quase como síntese de sua obra, ao Prokofiev detalhista, meticuloso na escrita musical. Como intérprete, escolhi outro regente que admiro muito pela vastidão do repertório: o estoniano Neeme Järvi. É importante sabermos que hoje em dia se fala muito de um de seus filhos, o incrível Paavo Järvi. Mas o pai Neeme não pode deixar de ser lembrado, em seus atuais 83 anos de idade, dono de uma ampla e excelente discografia.