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A Sonata para Piano nº 32, Op. 111, é a última obra de Beethoven nesse gênero. Sua produção para piano é seguida apenas pelos dois conjuntos de Bagatelas, Op. 119 e Op. 126, e pelas Variações Diabelli.
A Sonata Op. 111 tem apenas dois movimentos: o primeiro, um Allegro con Brio ed Appassionato, de enorme força e energia, que é seguido por uma Arietta, um sublime conjunto de variações da maior intensidade espiritual.
O editor da sonata, Moritz Schlesinger, ao receber o manuscrito, indagou se, por acaso, o copista não teria omitido um terceiro movimento, que seria o final da obra. Beethoven lhe deu então uma resposta sarcástica: “Não tive tempo de escrever um final, mas escrevi um segundo movimento mais longo para compensar”.
O contraste entre os dois movimentos não poderia ser maior. Na tonalidade: ao dramático Dó menor da Abertura se contrapõe o tranquilo Dó maior da Arietta; no ritmo: fogoso, depois plácido; na melodia: acidentada e cheia de saltos, suave e fluente, como um hino; e na harmonia: cromática e ousada, pura e introspectiva.
Apesar das dúvidas de Schlesinger e de outros comentaristas da época, a Sonata nº 32 não só está completa: ela é perfeita e acabada, e está entre as maiores obras da literatura do piano.
Representa, também, uma jornada das trevas para a luz, do conflito para a transcendência, tema que faz a obra de Beethoven tão relevante.
Primeiro Movimento: Maestoso – Allegro con Brio ed Appassionato
Esse movimento relembra, de forma espiritualizada, os dramáticos gestos em dó menor de uma longa sucessão de obras, que vai desde a sonata “Patética” até a Quinta Sinfonia e a Abertura Coriolano.
Uma introdução lenta, Maestoso, cria um clima de grande tensão. Essa tensão é mantida nas passagens que se seguem e na transição para o Allegro.
Depois de um tremendo clímax, segue-se, subitamente, uma passagem lírica, e o andamento se retarda gradualmente para Adagio. Mas esse é um momento isolado – ou, como diz o personagem Kretzschmar, em sua análise da sonata no livro Doutor Fausto, de Thomas Mann: “Um pálido raio de sol, que clareia o céu escuro, num dia de tempestade”.
Logo a música retoma seu ritmo implacável.
Segundo Movimento: Arietta – Adagio molto Semplice e Cantabile
Beethoven geralmente usava variações nos movimentos centrais de suas sonatas. Mas aqui as variações têm um peso tão grande e assumem um caráter tão conclusivo, que tornam outros movimentos supérfluos.
Ao tema simples e cantável seguem-se cinco variações – na verdade, cinco transformações do tema. Cada variação parece mais rápida do que anterior, mas o andamento permanece o mesmo.
A variação final, longa, cintilante e serena, serve como uma extensa coda para o movimento. A sonata de Beethoven termina, assim, não em triunfo, mas em um clima de transcendência e paz.
Ouça a interpretação da obra pelo pianista Igor Levit, premiado como “Artista do Ano de 2020” pela revista britânica Gramophone por sua gravação da integral das Sonatas de Beethoven: