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“Quem é Sílvia, o que é ela,
Que todos nossos jovens admiram?
Santa, bela e sábia é ela,
Tanta graça o céu lhe concedeu!”
An Sylvia é uma serenata cantada por um pequeno coro masculino, no 4º Ato de Os Dois Fidalgos de Verona, de Shakespeare. No enredo da peça, a canção tem conotações humorísticas. Mas, como diz Richard Capell, “Schubert expulsa os fidalgos de Verona e transforma Sílvia em um personagem seu”. O compositor ficou claramente impressionado pelo poema e encanta hoje as pessoas que ouvem sua canção.
“Há canções mais profundas e mais elaboradas”, afirma John Reed, “mas nenhuma maior que esta. Sua perfeição de forma e expressão é absoluta”.
Schubert – An Sylvia | Mattias Goerne (barítono) e Filarmônica de Berlim, com Manfred Honeck (regente)
Interlúdio
Mozart – Sonata para Piano a 4 mãos, K. 381 | Lucas & Arthur Jussen (piano)
“O vento do leste
Traz fragrância ao ar
E assim fico sabendo
Que você esteve aqui!
Lágrimas derramadas aqui:
Você saberá,
Embora não tivesse percebido,
Que eu estive aqui.
Beleza ou amor:
É possível ocultá-los?
Fragrâncias e lágrimas proclamam
Que ela esteve aqui!
(Friedrich Rückert)
Impossível descrever esta canção. Mágica, etérea, ambígua, suave, delicada, apaixonada, sofrida, lacônica, eloquente, única… Musicar o perfume que a brisa traz em uns poucos acordes!
Schubert – Dass sie hier gewesen | Christoph Prégardien (tenor)
Interlúdio
Schubert – Allegretto D. 915 | Paul Lewis (piano)
A canção Frühlingstraum integra o ciclo Viagem de Inverno, de Schubert.
1ª parte:
A canção inicia como uma valsinha inocente. O viajante recorda, em sonho, a primavera, as flores. Mas… há algo estranho aqui: o registro muito agudo do piano é o equivalente sonoro das cores lavadas, desbotadas, de sequências alucinatórias do cinema.
2ª parte:
Os galos cantam e interrompem bruscamente o sonho. Está escuro, faz frio.
3ª parte:
O viajante vê florões e folhagens de gelo na janela. Quem os desenhou? Decerto vão rir do sonhador que viu flores em pleno inverno. Repete-se a sequência: aos poucos, o viajante adormece e sonha de novo, desta vez com os abraços e beijos de uma bela jovem. Os galos o acordam outra vez. Agora ele não consegue mais dormir. Seu coração bate depressa.
Última estrofe:
Ele pensa: “Quando vão ficar verdes as folhagens? Quando vou ter em meus braços meu amor?” E é neste clima de desolação que termina esta suprema obra-prima.
Schubert – Frühlingstraum | Julian Prégardien (tenor )
Interlúdio
Mozart – Sonata K. 545: Andante | Enrique Graf (piano)
O quarto ato da tragédia de Matthäus von Collin, A Morte de Frederico, o Valente, mostra Frederico de volta ao seu querido vale na Áustria, onde viveu tempos felizes. Ele lamenta seu triste destino, quando ouve vozes: primeiro a de um homem e depois a de uma mulher, cantando ao longe. As vozes se misturam em um etéreo dueto:
“O amor é uma doce luz;
Assim como a Terra anseia pelo Sol
E pelas estrelas brilhantes,
No azul do firmamento,
Assim o coração anseia pelo êxtase do amor,
Porque o amor é uma doce luz.”
Os sons flutuam misteriosamente dentro da noite…
Schubert – Licht und Liebe | Birgid Steinberger (soprano) e Jan Petryka (tenor)
Uma observação sobre os intérpretes: o tenor é jovem, vestido de maneira simples. Tem talento, mas, às vezes, parece um pouco inseguro. Já a soprano é mais velha, vestida em trajes de noite, joias, penteado, etc. Canta com desenvoltura. No final, eles estão alegres, abraçam-se, conseguiram sair-se bem. Há uma relação entre eles – acho que a soprano é professora do tenor.
“No alto da montanha
Há uma área verde.
Devo voltar sozinho,
Adeus, tem de ser assim.
Partir, deixando quem se ama,
Ah, como dói o coração.
Lagos, bosques e colinas, todos desaparecem.
Ouço ao longe o eco de suas vozes
Adeus! soa o lamento,
Ah, como dói o coração.
Partir, deixando a quem se ama
O lamento soa: Adeus!”
Na canção Abschied D. 475, baseada no poema de Johann Mayrhofer, Schubert anota na partitura: “lento e melancólico”. A dinâmica em pianíssimo (pp e mesmo ppp) predomina.
Schubert indica que a canção se baseia em um hino de peregrinos que não foi encontrado. Mayrhofer intitula o poema Lunz (uma pequena cidade no sul da Áustria).
O jogo de ecos do Alpenhorn (trompa alpina) ressoa ao longo da canção. A nostálgica música do prelúdio serve também como interlúdio e poslúdio.
Diz o musicólogo Graham Johnson: “Esta jornada musical nos leva à outra margem do rio, a novos domínios espirituais” (tradução livre).
Schubert – Abschied, D. 475 | Christian Gerhaher (barítono)