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Vagas Estrelas da Ursa é um filme sombrio, melancólico e mórbido. Uma versão moderna do mito de Electra magistralmente contada pelo diretor Luchino Visconti.
No mito grego, Electra e seu irmão Orestes tramam matar sua mãe e seu marido atual, a quem acusam de ter matado seu pai.
O roteiro do filme situa a ação nos anos após a Segunda Guerra Mundial. A mãe e seu amante teriam denunciado o pai dos irmãos, que era judeu. A filha, Sandra (Claudia Cardinale), está de volta a Volterra depois de vários anos de ausência. O reencontro com seu irmão é doloroso – o filme reconta uma possível relação incestuosa.
Visconti usa vários recursos para criar a atmosfera.
Primeiro, o belo poema de Leopardi, Le ricordanze, que dá o título ao filme:
“Vagas estrelas da Ursa
Não imaginava voltar a vê-las,
Cintilantes, do jardim de meu pai,
E conversar com você de novo da janela
Desta casa onde passei minha infância
E das alegrias que se foram”.
Além disso, há a filmagem em preto e branco: escura, fantasmagórica.
Muito importante também é a escolha de Volterra, uma cidade medieval, em meio a ruínas, situada em uma encosta. Sua antiga necrópole e uma parte da muralha etrusca já desapareceram, e o antigo mosteiro está à beira do abismo.
Finalmente, a escolha da música: o Prelúdio, Coral e Fuga de César Franck – intenso, apaixonado, obsessivo.
A cena em que Sandra volta à noite à casa decadente, mas cheia de recordações – o Palácio dos Fantasmas –, termina no jardim, com o encontro da estátua de seu pai, coberta por um véu. Ele será homenageado no dia seguinte. Ela a abraça em lágrimas.