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Apresentamos a segunda parte (acesse a primeira clicando aqui) de uma seleção de canções de Mahler a partir dos poemas da coletânea Des Knaben Wunderhorn (A cornucópia da juventude).
As peças integram um recital com o barítono Thomas Hampson e o pianista Wolfram Rieger. A minutagem de cada uma está indicada nos títulos das canções.
Revelge (Toque de alvorada) – 32:53
Revelge era considerado por Mahler o mais importante de seus Lieder sobre poemas do Wunderhorn, e tem paralelos óbvios com outros, como Zu Strasburg e Wo die schönen Trompeten blasen, na medida em que explora temas recorrentes para o compositor: os militares, a guerra e a morte.
A canção fala do massacre de um batalhão. Mesmo mortos, os soldados são despertados pelos tambores e seus esqueletos têm de marchar para a batalha. O característico ritmo de marcha da canção se mantém sem trégua em toda a peça, recurso extremamente expressivo.
“Para ser gritado” e “desesperadamente” são as indicações para os intérpretes, na partitura da obra.
Tamboursg’sell (O Menino do Tambor) – 41:11
Tamboursg’sell é a última das canções do Wunderhorn compostas por Mahler. Como Revelge, é cantada por um soldado condenado que está na prisão.
Mas se em Revelge a atmosfera era obstinada, aqui é ela mais pesada e triste. Os tambores são mais lentos e deliberados, equilibrados por trinados lamentosos. A música em si soa mais eficaz em ritmo lento, tendo o caráter de uma marcha fúnebre lenta e longa, como Revelge.
As invocações finais de Gute Nacht! (boa noite) rivalizam com os momentos finais da Sexta Sinfonia, como a música mais devastadora que Mahler jamais escreveu.
Lied des Verfolgten im Turm (Canção do Perseguido na Torre) – 50:14
O protagonista de Lied des Verfolgten im Turm é um prisioneiro. Novamente, aqui o estilo é militar. O centro da música é o refrão “os pensamentos são livres”, embora o próprio personagem não o seja.
Novamente, esta é uma música de diálogo. Quando a namorada do prisioneiro fala com ele, a música é contrastante. Além das paredes da prisão, no mundo aberto e no desejo de que eles estivessem juntos, ele a rejeita, dizendo que seus pensamentos são livres.
Na verdade, seus pensamentos são tão agrilhoados quanto ele, pois desistiu de sua esperança e se afastou de sua amada.
Wo die schönen Trompeten blasen (Onde os Esplêndidos Trompetes Soam) – 56:50
Antes da intervenção de Mahler, no poema Wo die schönen Trompeten blasen, havia um diálogo entre dois amantes. Mas quando Mahler o reescreveu, ele o transformou em um encontro entre uma mulher e o fantasma de seu amante, um soldado morto. Sua promessa de que eles ficariam juntos torna-se assim uma profecia da morte dela.
Das irdische Leben (A Vida na Terra) – 1:06:10
A sinistra Das irdische Leben é um drama em miniatura, tal como Erlkönig, de Schubert. Uma criança faminta chora e morre, antes que o pão esteja assado.
Mahler exprime o conteúdo do texto de maneira terrível, na agitação sussurrante e sombria do acompanhamento, que lembra uma tempestade; nos gritos da criança, “Mutter, ach Mutter, es hungert mich” (Mãe, ó mãe, estou com fome); e na resposta uniforme e lenta da mãe, “Warte nur! Warte nur, mein liebes Kind” (Espera um pouco, espera um pouco, filho querido).
Este é um dos melhores momentos do compositor no gênero.
Das himmlische Leben (A Vida no Céu) – 1:09:54
Das himmlische Leben é a contrapartida de Das irdische Leben (A vida na Terra) e foi descrita por Mahler como Humoresque.
Mahler usava Humoresque como um sinônimo de balada e esta é, de fato, a melhor descrição para suas obras sobre o Wunderhorn – histórias contadas por um narrador que interpreta também os diversos personagens. Humoresque tem o senso de humor peculiar de Mahler. As canções assim designadas são cheias de incongruências e de ironias.
Urlicht (Luz Primordial) – 1:21:13
Urlicht trata da busca do céu e tem mais do que sua cota de toques celestiais, entre os quais, o hino que saúda a primeira linha entoada pelo cantor. A canção se tornou o quarto movimento da Segunda Sinfonia.