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Goethe é o mais musical e o mais musicado dos poetas. A música tem papel essencial em sua obra que, por sua vez, tem papel essencial na história da música. O próprio escritor afirmou: “Nenhum poema lírico está completo até ser posto em música. Então, algo de único acontece. Só então a inspiração poética é sublimada, ou melhor, fundida, no belo e livre elemento da experiência sensorial. Então, pensamos e sentimos ao mesmo tempo e somos, assim, arrebatados”.
A maioria dos trabalhos de Goethe, desde o monumental Fausto até poemas curtos, contempla, pelo menos em certas partes, a colaboração da música. Como resultado, a história do Lied, a canção de arte alemã, de Schubert a Hugo Wolf, é dominada pelo escritor.
Preocupado sempre em criar versos cantáveis, Goethe recorre frequentemente ao método da paródia. Muitos de seus poemas são novas letras para velhas melodias. Sua forte e constante ligação com as artes visuais também faz com que seus poemas evoquem imagens vívidas e diretas, dando origem a milhares de versões musicais.
Goethe reverenciava compositores como Mozart e Gluck. Já sua atitude perante Beethoven era ambivalente. Quanto a Schubert, parece seguro dizer que ele simplesmente o ignora.
Em 1816, Joseph von Spaun reuniu em dois volumes canções de Schubert, então com 19 anos, para enviá-las a Goethe, na esperança de que o grande poeta pudesse ajudar a promover a publicação de obras do jovem compositor. Goethe anotou em seu diário a data e o nome de Schubert, e só. Ele devolveu o primeiro volume a von Spaun sem abri-lo.
Essa era uma reação previsível. Com 67 anos na época, Goethe era já uma figura lendária, um semideus procurado, requisitado e homenageado por muita gente. As canções escritas por um jovem de 19 anos, de família humilde, pobre e desconhecido, não deveriam realmente despertar o interesse daquele que foi chamado “o maior dos alemães”.
No que diz respeito a seus poemas, Goethe tem ideias muito claras sobre como musicá-los. Quer canções estróficas simples, como molduras para valorizar seus quadros. Ele é fundamentalmente contra a ideia de que um compositor possa dar uma interpretação musical própria, pessoal, a um de seus poemas. E este seria o caso de Schubert.
Seja como for, aqui reside a suprema ironia: os poemas de Goethe são lembrados hoje, fora dos países de língua alemã, quase que somente através da música composta em frontal violação dos preceitos do poeta.
O pianista e musicólogo inglês Graham Johnson resume com felicidade: “Nós, amantes da música, para quem o alemão não é a língua materna, temos a sorte de poder amar Goethe. Graças a Schubert”.
Ouça aqui uma seleção de canções de Schubert a partir de poemas de Goethe: